quinta-feira, 19 de junho de 2014

A Poeira: Das Coisas E Dos Seres





1.
Há essa poeira invencível, invisível,
a se depositar sobre todas as coisas,
sobre a tv, os livros e todos os móveis,
a se esparramar pelo chão de todos
os dias e sobre os armários e roupas,
e a entupir o ar condicionado.

E não importa quantas vezes
você varra e quantas vezes espane
e aspire, não importa os panos
que molhe e passe, se o lugar
tem qualquer fresta, a menor que seja,
ela, nuvem de partículas de quase nada,
encontrará por onde entrar.

E entrará.

Você limpa todos os dias,
e sempre que amanhece,
lá está, a poeira habitual
e mais um dia para a limpar,
pedra de todos nós, Sísifos
domésticos.


2.
Mas há dessa outra poeira,
mais escura e mais pérfida,
mais sorrateira e mais difícil
de limpar: a poeria imaterial
dos males triviais.

E contra ela não há espanadores
ou aspiradores de pó, não há pano molhado
que a alcance, nem papel toalha
embebido em álcool capaz
de a eliminar.

É preciso um trabalho
mais atento, que aconteça
por dentro, é preciso juízo,
e temperamento, todo santo dia,
porque se não há, ela ganha.



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