sábado, 7 de junho de 2014

O Poeta Que Ri


Poeta (Mas Nem Tanto) │ em: Espaço Pirata, dia 04 de junho de 2014


Depois de alguns meses não fazendo mais que algumas pequenas aparições em eventos de amigos, decidi que era hora de fazer algo mais. Reuni alguns poemas, meus e de autores conhecidos, soprei a poeira de cima de alguns velhos pensamentos sobre a Poesia, ser poeta e tudo mais, adicionei um pouco de cinismo e desprendimento e, então, montei o espetáculo Poeta (Mas Nem Tanto). Chamo de espetáculo, mas no fundo, não passou de uma conversa de bar com muitos poemas. Acho mesmo que foi uma conversa de bar o que aconteceu no dia 04 de junho, quarta passada, no Espaço Pirata (um bar), uma conversa das longas já que excedeu a hora de duração que estava prevista. Antes que achem que estou desmerecendo a Poesia, vamos lembrar do que já disse Bukowski: Um intelectual é um cara que fala de uma forma difícil sobre coisas simples, um artista é um cara que fala de coisas difíceis de uma forma simples. Alguém discorda?

A primeira apresentação solo que fiz, não foi planejada, na verdade, ela se deu por conta das outras coisas que não se deram. Um dia, inventei de ir para uma praça da cidade falar poesia (prefiro dizer assim, falar, a dizer declamar ou recitar). Embora seja bastante questionável dizer que o evento deu certo, já que o público não excedeu vinte pessoas, considerei que sim, que deu certo (alguém foi), e então, planejei outro, mas agora noutro espaço, no anfiteatro do Parque da Cidade, perto do Shopping de Porto Velho. Avisei amigos e amigas, e falei com alguns compadres de versos sobre lermos poesias no dia tal, na hora tal, no lugar tal. Todos gostaram da ideia e, de imediato, concordaram em participar.

Em “Um tipo de otimismo” descrevo minha postura diante das mais sortidas ocasiões da vida - sempre considero o desastre como possibilidade, como provável recompensa ao esforço -, daquela vez, não foi diferente. Pensei e "se ninguém aparecer para me acompanhar na apresentação, o que vou fazer?" Então, improvisei uma pequena apresentação onde falava sobre alguns tópicos como pra que ou por que Poesia. No dia, ninguém apareceu para apresentar. Apresentei sozinho mesmo. Era o longínquo ano de 2011.

Recentemente, meu cunhado abriu um pub, o Espaço Pirata – O Santuário do Rock, e enquanto preparava o cronograma semanal, me chamou para fazer “alguma coisa” na quarta, já que não tenho aula. Pensei no que sempre penso - Poesia. Já fazia um tempo que pretendia fazer uma apresentação com bastante humor, tratando questões da Poesia no palco, da mesma forma como trato meu cotidiano afora. Comecei então, a escrever o Poeta (Mas Nem Tanto), para aproveitar a vibe do blog. Já havia tentado uma abordagem diferente das habituais com o “Qual é a Graça da Poesia?”, que depois de acontecido, achei que faltou humor, o que me fez prestar bastante atenção nesse quesito.

Foi uma semana corrida, mas consegui escrever um roteiro, pelo menos, uma base que me serviu como roteiro. Escolhi trabalhos de grande importância para a elaboração de boa parte do meu pensamento, como o grande poema "Traduzir-se", do Gullar. Dessa vez, sim, consegui o que queria, acho que fui até mais longe do que pretendia, acho mesmo que até perdi a mão, se for pra levar em conta os palavrões e as piadas sujas. Pelo que percebi, foi uma boa apresentação, fiz muitos gracejos, contei algumas histórias pessoais, mas e principalmente, falei sobre Poesia, sobre sua importância, sua beleza, seus milagres e o melhor, falei como geralmente falo - brincando.

Eu já disse antes e volto a dizer: a diferença entre contar uma piada e declamar uma poesia é que, quando você diz que vai contar uma piada, ninguém faz cara de abestado. Por que é preciso sempre tratar a poesia com solenidade? Será mesmo que a única emoção que uns bons versos podem causar é inclinação a momentos contemplativos? Acredito que não. Um bom poeta nos inquieta, nos faz pensar, nos emociona, nos faz rir. A vida é irregular, nossos humores são irregulares e reagimos às coisas que são diversas também sendo diversos, a partir daí é fácil conclui que seria besteira manter o mesmo estado de espírito pra todas as ocasiões da vida, de nascimento aos funerais, e se é assim, então por que a poesia deve ter a função única de nos elevar? Ou de nos encantar? Ou de nos chocar? Claro que existem poetas monocromáticos, mas e quanto a todos os outros, os coloridos, os que falaram de tudo e um pouco mais?

Na apresentação de quarta, rimos falando de Bukowski e coloquialidade, falamos de Bandeira e cinismo, ou alguém acha que o "Pneumotórax" é algo menos que cínico? Nos impressionamos com o "Poema Brasileiro", de Gullar. Teve até Camões (meu primeiro meste). As poesias são diversas e nos causam, portanto, emoções diversas, volto a perguntar: por que tentar considerá-la a partir de uma perspectiva tão restrita, unívoca, como a habitual? Poesia fala de sentimentos, nem só disso, mas quando fala de sentimentos é de sentimentos, no plural e não sentimento, nesse tão restritivo singular. O poeta (levando em conta Pessoa) não é um simples finge-dor, é um finge tudo. Certamente, que existem obras com propostas bem definidas e de um humor só, mas na maioria dos casos, os poetas, pessoas que são (pessoas geralmente esquisitas, mas pessoas), experimentam emoções diversas e se utilizam dos versos para expressar o sobe e desce da vida.

Pior é que o pensamento de que a Poesia é coisa de um sentimento só, ou só de sentimentos, não é coisa só de pessoas que a detestam, sem nunca ter lido nada, mas também (e talvez mais fortemente) de muitos fabricadores de poemas que se apropriando de discursos já caducos, colocam-se como únicos representantes da Poesia no mundo e defendem a própria perspectiva como a maior verdade do mundo, embora defendam ao mesmo tempo ideias de liberdade e revolução e vivam denunciando constantemente a mesmice. Poesia é um meio de expressão, é para falar sobre qualquer assunto, pra que serviu o Modernismo, afinal? - Não foi para nos convencer disso? Não temo ser redundante, porque, ao que parece, cedo ou tarde a ideia se perde e lá vamos nós ouvir que a Poesia é isso ou aquilo, sendo que é uma ferramenta cujo uso depende de quem a manuseia, não como um martelo ou um serrote, ou qualquer outro utensílio com um fim tão bem definido e obstante ao usufruto da imaginação.

Outra coisa, já me disseram que a forma como trato a Poesia acaba por incentivar o mesmo descrédito, já tão difundido, a qual vivo contestando. A Poesia não ganha importância pelo simples fato de dizermos que ela é importante, ou porque a tratamos como algo superior ao mundo, a pessoa pode até concordar que ela é importante, pode até acreditar no dito de sua importância, mas não quer dizer que a partir daí ela possa de fato conceber qualquer importância para o que lê. Tratá-la como tratamos nossos melhores amigos, talvez não imponha o respeito que alguns acham obrigatório, mas certamente, demonstra familiaridade e (por que não?) afeto. Sem dizer que deixa claro que a Poesia não é só aquela chatice de gente presunçosa e pedante.

Finalmente, consegui falar de poesia abertamente, sem os escrúpulos que acabam derivando do tempo e a interação com grupos de gente tão "mente aberta" que se reúne para manter pensamentos rígidos a respeito de tudo e todos. Agradeço ao Alexandre e à Patrícia Usk, por terem desafiado a ideia de que evento de Poesia não atrai ninguém e cedido o Espaço Pirata para a minha apresentação. Também agradeço ao público em geral, pela participação e pelos risos que demos, em especial ao Leo Vincey, compadre de versos, ao Ulisses Machado (meu maior fã) e Lilian Silveira (que finalmente foi me assistir). Meu mais especial agradecimento vai para Vanessa Galvão, por sempre acreditar que vale a pena e me ajudar nos momentos de dúvidas e incertezas. Acho que é isso. Até mais.

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