quinta-feira, 3 de julho de 2014

Um Cara No Ônibus




Quase seis da tarde, um cara no ônibus
pede licença (como se fizesse diferença) e
começa a falar sobre os males da sua vida:
problema na coluna, diabetes, aposentadoria
por invalidez enrolada nos muitos trâmites
processuais de praxe. Está passando
fome e frio na rodoviária, dormindo
num banco.

34 anos de sirviçu, fossem 35 e já estaria
aposentado. Mais um ano, mas num deu,
caiu doente antes...

O cara fede como um morador de rua
e tem na roupa aquele escurecido inconfundível,
o braço esquerdo está numa tipoia
com um curativo no lugar da mão, ele se
escora num dos bancos dianteiros, olha
para o cotoco enfaixado e diz: isso aqui
foi por causa da diabetes.

E então fala de lombalgia e de outras dores,
precisa de dinheiro, porque está longe de
casa, veio para um tratamento, veio
fazer uma avaliação para a aposentadoria
por invalidez,

Mas faltava só um ano, só mais um ano
para se aposentar pelo tempo de serviço.

No começo, ele estava de máscara
higiênica, mas tirou do rosto, pra poder
falar melhor. Enquanto falava, não olhava
ninguém nos olhos, os olhos eram fugidios
como um gato se divertindo no quintal.

Será mais um desses pilantras ou só
está muito constrangido por pedir dinheiro?
Não tenho como saber, mas lhe dou dois reais,
se não pela realidade de seus males,
valeram pelo show.

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