sábado, 11 de abril de 2015

Desarranjo



E se você tivesse desde cedo,
dentro de si, como se um órgão
com função específica a liberasse,
uma desconfiança permanente
e incômoda?

E se você ouvisse os seus pais
e os tios e avós e não entendesse
verdadeiramente nada do que
estavam dizendo?

E se o mundo a seu redor
nunca se apresentasse a você
como aos seus amigos, como
algo simples e óbvio?

E se você se sentisse perdido
muitas vezes com as questões
mais simples e até por inquietações
por que nem todos passam?

E se você perguntasse e sempre
e invariavelmente ouvisse como
resposta a mesma simplicidade
que não funcionava pra você?

E se nada fizesse muito sentido,
você não faria algo a respeito?
Não tentaria, pelo menos, fazer?

E se você soubesse que precisaria
enfrentar muita gente e que na contagem
dos votos, sempre seria você o errado?

E se você passasse por longos
períodos de uma solidão insolúvel
que apenas raras presenças
poderiam mitigar?

E se em algum momento você concebesse
o peso e o tamanho da tarefa e admitisse
que talvez não tivesse ombros largos
nem pernas fortes o suficiente para
dar conta?

Você continuaria?

E se você descobrisse que não
conseguiria nunca reorganizar o mundo
e que sua única chance era reorganizar
a si mesmo?

E se você entendesse que nunca
seria capaz de se reorganizar
sem se desorganizar primeiro,
que nunca seria capaz de criar
nada em si, se não depois
de alguma destruição?

Você seguiria em frente?










                                        
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