sábado, 17 de outubro de 2015
Tamanhos e Proporções
Isso de crescer
nos apequena,
Quanto mais o corpo estica,
mais pro alto vão os olhos
e a visão, que se amplifica,
mostra como é largo o mundo,
distante o céu e o mar
profundo.
E a emoção da descoberta
acompanham sempre certo medo
e uma angústia certa,
de que se faz segredo
No escuro de cada um
convertendo em pânico a alegria
e o indômito anseio da aventura
na vontade de não ir a lugar
algum.
Taí o que é crescer:
perder a própria
enormidade.
Por isso, aqui e ali,
a gente se pega
com a maior vontade
de voltar no tempo,
pros momentos primeiros
da primeira idade.
Voltar pra quando ainda
não havia nem dores, nem cansaços,
e a gente morria de achar graça
da cara dos vizinhos bebadaços.
Voltar pra quando ser feliz
não exigia quase nada,
café com pão era refeição,
banquete era macarronada;
Voltar pra quando o mundo
ia até o mercadinho do João
onde tinha doce de leite,
paçoca e bolacha recheada.
Qualquer coisa,
era só meter
um fiado.
Voltar pra quando os limites
do mundo estavam à distância
de uma caminhada e as pernas
da imaginação corriam soltas,
desembaraçadas.
Às vezes, quando o dia pesa,
e não é incomum que pese
para a mente já pesada,
a gente para e pensa:
maravilha é ser criança,
ser adulto não é grande coisa,
não compensa;
Tudo é sempre muito sério,
pode ser ridículo, mas é sério
- muito sério;
A vida de um adulto,
basicamente, é sobre
ganhar dinheiro,
reclamar do governo
e dizer que tá osso...
Eu já disse:
com isso de crescer
a gente se apequena,
e daí, sofre.
E no sofrimento
a gente lembra
de como se sentia grande
quando era pequeno,
Não é à toa, portanto,
essa vontade de voltar!
Mas por quê?
O que é que acontece
com a gente pra que a gente
se sinta tão pequeno
depois que cresce?
Acho que é alguma coisa
que não devia se perder,
mas porque se perdeu
a gente quer de volta.
Não estou falando
da infância - perda inevitável,
estou falando da gente.
Uma hora a gente cresce
e já não quer brincar
e até o que há de sonho
desaparece.
Sim, eu sei,
já estou careca de saber:
O mundo
é um lugar estranho,
pra quem só cresce
no tamanho,
Mas
(e esse é realmente o ponto)
O mundo será sempre
um lugar muito triste,
pra quem não vive,
não brinca, não sonha
- só existe.
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Boa tarde José Danilo.
ResponderExcluirBelas palavras retratando a infância, e vamos lendo, lendo e apreciando! Como nos faz bem recordar, afinal, recordar e viver!
Abraços.
Obrigado, Cecília.
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