sábado, 26 de novembro de 2016

Voo de Pinguim





Seria
muito mais confortável
pro meu amor próprio
a manutenção de certas
fantasias,

Mas como é que eu ia
continuar acreditando
nas virtudes que não
tenho?

Se fosse pra acreditar
só por acreditar, até
que não seria difícil,
meu ego concordaria
fácil,

Ninguém acha ruim
um bom figurino.

Acontece que não
só acreditei, acreditei
e contei com as ficções
bonitas da vaidade,
como verdades.

Imagina um pinguim
acreditando que pode
voar e orgulhoso
disso.

Enquanto
ele não se jogar do alto
de algum lugar pra tentar
o voo, tudo bem,

Mas
eu era o pinguim
e me joguei!

Acho até que foi
por isso que desacreditei,
confiei que podia quando
não podia,

E não só confiei,
fui lá na beira do abismo
e tentei

E tentando, é claro:
me lasquei.

E me lascando,
reconheci porque
tive que reconhecer:
sou muito menor
do que pensava.

Sou menos capaz,
menos corajoso
e nobre, menos
altruísta, menos
forte,

Sou menos
do que pensava.

E isso
também quer dizer
que meu sonho de céu
não é difícil, como eu
imaginava,

É impossível!

Enquanto,
varo a cidade pra ir
trabalhar, vou pensando
nessas coisas sem susto,
com naturalidade,

Na época em que
cheguei, pela primeira vez,
a essa conclusão, fiquei
triste,

Foi como chegar
num cemitério

Um cemitério de esperanças
chegar e ver um pessoal
abrindo mais uma cova.

Mas agora,
não.

Não sei dizer
se teimosia é um defeito
ou uma qualidade, sei
que teimei

E que teimando
aprendi umas coisas:
uns exercícios bons pras pernas
e pras minhas asas de pinguim

E também que meu azul
não é dos céus, é o azul
dos mares.




                                                                   
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