1.
Eu entendo por que algumas
pessoas um tanto angustiadas
em vez de ficarem em casa, quietas,
saem, decididas a arranjar problemas,
E bebem e brigam e batem boca
e dormem pela rua e conseguem
romances instantâneos e se deixam
enganar, enfim, dão um jeito.
Uma confusão real, ali, concreta,
sempre é muito melhor que
qualquer um desses incômodos
obscuros e difíceis de identificar.
É muito melhor sair às ruas
pra arranjar um problema
e lidar com ele do que
tatear a ampla escuridão
da própria mente em busca
de algo que nem se sabe
que está lá.
Algumas dessas pessoas
foram obrigadas a olhar bem
no fundo sombrio de si mesmas,
desde então, fogem,
Porque encontraram dentro de si
um pouco a mais dessa demência
que está em toda parte, em todos.
As outras não tiveram mais
que um vislumbre e também
aprenderam a correr, porque
são sensíveis demais,
Foram crianças incapazes
de abrir o armário pra
ver se tinha ou não tinha
um bicho papão por lá.
2.
Não é difícil encontrar pessoas
assim, por aqui, cada esquina
tem uma, senão duas ou
uma turma delas,
E você as vê, e de dentro
da sua vida cordata e monótona,
você fica encucado, pensando
sobre a existência dessas pessoas
que procuram problemas.
Se você é bondoso, vai dizer
que lhes faltou amor, se não,
vai dizer que são uns vagabundos
desgraçados que merecem mesmo
morrer de fome.
A verdade é que você é igual
a todas essas pessoas
que não servem, que não ouvem,
que não se ajudam,
A diferença básica é que
deu certo com você, você
pode levar a vida numa boa
porque tem um emprego,
paga as contas e ocupa
o seu lugar no mundo,
Então, você pode olhar
para si mesmo e acreditar
que vale alguma coisa,
que a vida tem sentido,
que Deus é bom e justo,
e pode dormir tranquilo
mais uma noite,
para mais um dia.
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