sábado, 15 de novembro de 2014

Meu Modo de Filosofar











 





Danilo, por que você escreve? - Eis aí uma pergunta que está se tornando cada vez mais comum e acho que por um fato muito simples, quase ninguém entende o que ganho com o escrever, porque não ganho dinheiro e nos dias de hoje fazer algo do tipo por qualquer outro motivo é realmente estranho. Então, acho normal me perguntarem por que escrevo já que não ganho nada com isso.

Geralmente, eu falo que é divertido, que eu gosto, e fica por isso mesmo. Embora muita gente ache esquisito alguém que se diverte escrevendo, todos entendem como é fazer algo pra se divertir e falando do gostar, não é diferente. Nesse caso, fica difícil compreender por que me dedico tanto e tanto tempo a escrever e por que levo tão a sério já que é só diversão. E a verdade é que não é.

Mas antes de dizer por que escrevo, primeiro é preciso entender porque eu leio e mais, porque lia. Essas atividades estão intimamente ligadas e uma levou a outra. Havia sempre um desconforto, uma desconfiança minha diante do que os mais velhos queriam me ensinar, eu sempre pensava, não pode ser assim! O que se aprofundou quando, deixando a Itaitinga do interior do Ceará, vim morar na periferia de Porto Velho.

Os meninos daqui eram muito mais espertos que eu, muito mais entendidos de como a vida funcionava e eu me sentia muito burro no bairro, na escola e em casa, porque eu não sabia, fazia força, mas não conseguia assimilar o que queriam me ensinar. É por aí que começo a ler, na escola Araújo Lima, na primeira e segunda séries a gente ia pra biblioteca e eu lembro até hoje do primeiro livro que li, O Pássaro das Asas de Ouro. Tudo era de ouro no livro, tinha árvores, frutos, castelos, e muitas outras coisas de ouro, um mundo de ouro.

O tempo vai passando e eu vou aprendendo a me ajustar, a conviver, entendendo umas coisas, mas sempre havia ali uma ou outra que eu não conseguia ver sentido. Continuo lendo. Leio os livros didáticos com assiduidade, História, Geografia, Português, Matemática e tudo mais. Me torno um problema pros professores porque sempre estava adiantado na matéria.

Lembro que quando recebia os livros da escola, chegava em casa e passava o resto do dia folheando, compulsando-os é mais correto dizer. Aqueles livros ia iluminando diante dos meus olhos um mundo que eu não sabia que existia e, ao mesmo tempo, me mostrando o mundo onde eu vivia. Eu estava fascinado com tudo aquilo e sempre queria mais.

Mais um tempo passa e eu me deparo com os clássicos da literatura nacional e mundial, José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Eça de Queirós, Victor Hugo. Conheço um pouco de Platão, Aristóteles, Comte, Montesquieu, Descartes e não paro por aí, vou adiante. O importante é que eu ia lendo e me desenvolvendo, pegando o jeito, pensando. Então, se alguém pergunta porque leio o tanto que leio atualmente, eu digo, estou aprendendo.

E acho que agora está fácil entender porque escrevo, falando como Bukowski, não quero ser como eles, quero ser um deles. Acrescento que com ser um deles quero dizer escritor, mas pontuo que prefiro me ver mais como um filósofo, um pensador, do que como escritor e, em especial, como um mero escrevedor de versos. Um pensador que usa a literatura, contos, crônicas e poesia, para expor suas ideias e não artigos, teses ou textos congêneres.

Não sou uma pessoa muito introspectiva, na verdade, sou bem expansivo, falador, do tipo que conhece e é conhecido por todo mundo, então, é fácil imaginarem que também não sou reflexivo, portanto, podem supor, e muita gente supõe, que não tenho jeito pra filósofo, mas a verdade é que estou sempre pensando em algo, sempre tentando entender, sempre observando e refletindo.

E por que estou sempre pensando? É muito simples. Inicialmente, eu precisava refletir para compensar minha dificuldade em entender intuitivamente o mundo e a gente nele, já que o que parecia óbvio para muita gente pra mim não fazia sentido. Atualmente, pensar é um modo de me estabelecer no mundo e entre a gente nele, de ver e enfrentar a vida, evitando o risco de ser só mais um vivendo uma vida cujo sentido não é capaz de elaborar.

Claro, não sou um robô fazendo cálculos estatísticos e orientando meus atos conforme expectativas de resultados de eficiência matemática, afinal, refletir, pelo menos segundo penso, tem a função de nos ajudar a nos realizar como pessoas, pessoas que têm desejos, esperanças, medos, zelos, limites e por aí vai. Posso dizer também que refletir é um modo de não sofrer gratuitamente lidando com a esfínge mundo-a gente nele-vida.

O que vou dizer agora vai me fazer parecer contraditório, mas não. Escrever é a parte final do processo reflexivo, é o registro das conclusões a que cheguei, então, pode parecer que escrever nem é tão importante assim, mas é. Você já tentou escrever um texto? Pois aposto que ao escrever, descobriu que as ideias que pareciam prontas dentro da sua cabeça não estavam tão prontas assim quando foi transpô-las pro papel, não é?

Pois é. Escrever, pra mim, é a parte final de um processo de reflexão, é o momento real de sua organização, de seu fechamento, então, é mais do que importante, é fundamental, imprescindível. Ademais, é quando escrevo que me comunico com os grandes pensadores, os grandes autores, elaborando algo, uma obra. E é, ao mesmo tempo, uma das formas como me comunico com o mundo, expondo no que escrevi aquilo que reconheci, percebi, senti, pensei, passei e vivi.








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