sábado, 29 de agosto de 2015

As Dimensões do Ato


1.
Com 20 anos na cara,
meu pensamento não ia muito longe,
em geral, não passava do dia seguinte:
como seria amanhã?

Às vezes, a gente tinha o que comer,
às vezes, não. Então, sim, eu pensava:
quem eu vou visitar amanhã? Será bem
na hora do almoço ou um pouco antes?

Pensar no futuro sempre tinha
a ver com alguma urgência:
quando será que vão cortar a energia?

Quando o dono da casa vai pedir
que a gente saia e a gente vai ter
que sair?

Fora isso, minha mente se projetava,
no máximo, até o dia da próxima festa
e minha preocupação em torno do assunto
era bastante simples:
que jeito eu daria pra ir.

Coisa da idade.


02.
Aos 20 e poucos anos,
eu nunca saberia me imaginar
aos 30, e mesmo que soubesse,
não estava nem aí, então, não tinha
razão para especular e simplesmente,
não especulava.

Hoje, com 31, fico pensando em como
todos os aqueles atos acumulados de
10 ou mesmo de 20 anos atrás ainda
repercutem em mim e na minha vida.

Falei dos atos, mas as omissões
também entram no cálculo, afinal,
aquilo que não fiz, também me fez.

Não fazer também é ato
e o que não é feito, também
se torna fato.


03.
Quando penso no existir,
penso em continuidade,
assim que a ruptura
é aparente

E romper, na verdade,
é só outra forma
de continuar.

Se comparo o que fui
com o que sou, me percebo
muito diferente,

Mas não deixo de ver
essa linha torta que vem de lá
pra cá, esse algo permanente.

Viver é caminhar e
mesmo que a gente vá aos saltos,
sempre firma os pés em alguma parte
antes de saltar.

É com isso
que ando cismado.


04.
Quando a gente se dá conta
de que o que fez repercute
no presente, percebe o peso
do que anda fazendo pro futuro.

Aí, cada ato e cada omissão,
pelo tanto que podem ressoar,
assumem outra dimensão.

E não estou falando só de fazer
ou não fazer algo, da escolha
de mover ou não as mãos,
adiantar os pés ou parar,
falar, ou se calar.

Meto aí também, no mei da bagaceira,
as escolhas psicológicas,
as ideias que assumi e as que descartei,
os sentimentos que soube alimentar
e os outros que morreram de fome.

Então, porque penso que
o que penso precede o que faço,
antes de pensar sobre o fazer,
fico pensando, exatamente,
sobre pensar...




                                                                 
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