quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Modo de Dizer


Quando eu lia um grande livro, me perguntava como é que aquele cara tinha conseguido chegar àquele resultado. Minha primeira ideia era que ele tinha alcançado um adiantado nível de compreensão da realidade, um elevado desenvolvimento intelectual. Dessa forma, o que estava escrito ali não era mais que a expressão natural de uma mente avançada.

Completamente de acordo com esse pensamento, minhas primeiras preocupações com a Literatura, não tinham a ver com a Literatura, senão indiretamente, tinham mais a ver comigo mesmo. Eu queria escrever um livro (o que tem a ver com Literatura), contudo (e é aqui que se distancia um pouco), acreditava que para satisfazer essa vontade precisava, antes de tudo, conseguir aquela mente avançada de onde um livro sairia naturalmente.

Eu precisava saber pra “falar”, porque, segundo pensava: só fala coisas quem sabe coisas - era assim que pensava e digo que ainda hoje concordo comigo.

Diferente de outros casos, não consigo localizar no meu passado quando foi que me bateu a vontade de escrever um livro, da mesma forma, não sei em que altura da existência me surgiu a vontade de ser mais capaz, de saber mais, de me engrandecer. Sei dizer qual veio primeiro, a vontade de aprender, que me acompanha desde a meninice, quando eu me sentia muito burro e achava todos os outros muito espertos. Eu também queria ser esperto!

O certo é que em algum momento da vida, essas vontades se comunicaram e por isso, pra ser grande e escrever um grande livro, comecei “a busca pela grandeza”. A partir de então, os clássicos deixaram de ser um simples passatempo e a minha leitura, inicialmente direcionada a romances, contos e crônicas, foi enriquecida com livros de História, Geografia, Sociologia e, o que de fato me encantou e ainda me encanta: Filosofia.

O engraçado dessa história é que eu já tinha bem claro na minha cabeça que queria ser escritor, mas escrever era uma das minhas últimas preocupações. Não estou dizendo que não escrevia, escrevia e muito, estou dizendo que não pensava sobre escrever. Não me ocorria que um grande escritor era um grande ES-CRI-TOR!

Uma hora me dei conta de que precisava aprender a escrever. Me dei conta de que de nada adiantaria ter coisas pra “falar” se não tivesse uma forma de “falar”, então, comecei a esquentar a cabeça com Literatura, Gramática e coisas equivalentes e da mesma forma com que estava me dedicando à compreensão do mundo, aos avanços da mente. A despeito disso, a primeira busca ainda tem a primazia. E embora, eu dê muito mais atenção ao escrever atualmente, meu foco principal ainda é crescer.

Tanto é, que quando um novo leitor, geralmente um que aspira escrever, me pede algum conselho sobre escrever, basicamente, digo o seguinte: se preocupe, primeiro e sempre mais, com ser alguém que tem algo a dizer e depois, mas inevitavelmente, com o dizer. No fim, é muito ruim ter algo lindo pra dizer e não saber como dizer. Mas acho muito pior ser alguém com muitas formas lindas de dizer e nada que valha a pena ser dito.



                                                           
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