sábado, 12 de dezembro de 2015

O homem que não podia voar



Começou com um sonho,
talvez o mais comum:
o de estar voando.

Não como o Superman,
que é o mais normal,
como um homem alado,
um homem com asas, um anjo,
mas não exatamente, um anjo.

Foi vívido, nítido,
quase real!

Quando ele acordou,
a sensação do voo imaginário
era quase como uma lembrança,
como o sabor que um refrigerante
deixa na boca.

Depois daí, ele começou
a se imaginar em pleno voo,
as asas abertas, o vão do ar,
a liberdade.

Seria fantástico!

Ele aproveitava os intervalos
do cotidiano, em casa, no trabalho,
no banco, na fila do pão,
tivesse um tempinho livre
fugia do mundo, sonhava.

Depois, os intervalos
não bastavam mais,
ele se distraía mais vezes,
cada dia um pouco mais,
com os seus “voos”.

Chegou o dia em que ele
não conseguia pensar
a não ser em voar.

Mais um tempo passa,
imaginar já não o satisfazia,
agora ele pensava com tristeza
na tragédia de não poder voar.

Talvez a tragédia sobre a qual
se irmanava toda a humanidade!

Era impossível!

Ele sabia, existem aviões,
ultraleves, planadores
e muitos outros destes
aparelhos voadores,

Mas sua vontade,
seu anseio, sua angústia já,
era o desejo de voar
com o impulso das próprias
asas, que seriam magníficas!

Ele sabia que ninguém
tinha asas, mas a constatação
não ajudava em nada,
não é porque ninguém tinha asas,
não é porque é impossível,
que ele não podia desejar.

Então, desejava
e, desejando, se entristecia,
com o mesmo afinco.

Agora andava pelo mundo
encurvado de tal maneira
que os ombros ficavam
a meio palmo do quadril,
a cara no chão,

Não havia o que o animasse,
que o retirasse da melancolia,
ele se pôs até a filosofar sobre
a miséria da condição humana:
desalada!

O pior era olhar pros demais
e perceber que nenhum deles
sequer se dava conta
de como era lamentável
a anatomia humana.

Todos desalados,
mas só ele e ele só,
desalado e desolado.

Os vermes rastejavam
por sobre a superfície
pegajosa e imunda da terra,
perfeitamente, adaptados,
ignorantes de sua fatal
inaptidão.

Era horrendo,
chegava a ser ignominioso,
a ignorância dos bípedes.

Uma hora,
ele já não aguentava mais,
subiu num prédio, decidido:
ia saltar.

Ia, mas não saltou,
porque, sabia
- NÃO PODIA VOAR.



                                                            
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