sábado, 12 de março de 2016

PESADONA


01.
Tem em mim, um grande medo,
montanha de muitos medos que
foram aparecendo ao longo
das desgraças e desventuras
que vivi.

É um medo quase certeza,
aquela certeza que tudo vai
acabar do pior jeito e vai
sobrar pra mim.

Esse meu medo parece
um gato amarelo, só pele e osso,
que vi se tremendo todo, de frio e fome,
numa dessas manhãs chuvosas,
no lameiro da rua.

Ele tá, com seu passo mórbido
e seus miados sombrios,
sempre à espreita.

Quando a hora chega, é eu comigo,
me acovardo e fujo? Não me acovardo
e fico pra ver qual que é?


02.
Depois de se conseguir certa
consciência das coisas, a vida
passa a ser um contínuo exercício
de responsabilidade.

Por que eu tô dizendo isso?
Pra dar um exemplo.

Quando a hora chega,
quem decide sou eu:
ou respeitar o gato amarelo
ou enfrentar, é comigo.

Pondero as implicações
do sim, do não, do talvez,
imagino resultados,
delibero.


03
Quem tá com fome, come,
quem tá com sono, dorme,
não é? Nem sempre.

Quem tá com fome, pode
protelar o momento de
comer, não pode?

Quem tá com sono
também.

Mas estou falando de uma
forma diferente de autocontrole,
mais complexa que manter
a boca fechado ou os olhos
abertos.

Não estou falando
de emagrecer ou estender
o tempo de vigília, estou
falando de ser capaz
de conduzir a própria
história.


04.
Não acredito que alguém
tenha a capacidade de determinar
tudo o que ou como vai viver,
o mundo é uma onda incerta
sobre um mar incerto.

Tudo, não.
Mas muito, sim.

Qualquer um sabe que
o que escolheu fazer e fez,
no passado, emerge no
presente e o que escolhe
e faz no presente reverberá
futuro afora.

Então, a gente concorda
que é preciso saber
o que fazer. Não é?

Mas tem um problema,
a gente não vai lá e
faz o que faz do nada,

Toda ação é antecedida
por uma vontade, um desejo,
um medo, um cuidado,
enfim, uma intenção
não é?

Vamos dizer que sim,
então, é preciso saber
que intenção é essa,
que desejo é esse,
que medo é esse,
não é?

Mais que isso, é preciso
saber de onde vêm
as disposições internas
não é?

De onde vêm
e pra onde vão.


05.
Quando a gente conquista
alguma consciência das coisas,
descobre que o mundo onde
a gente vive nossa história
quer nos roubar o direito de
escrever,

Aí é que tá, porque a gente
pode ou permitir e se deixar
levar ou negar e conduzir
a pena pesadona com que
se escreve biografias
ao vivo.

Tem mais: a segunda opção
não se ganha à toa, porque
o mundo tá cheio de ideias
de como deve ser a vida
de cada um.

Se a gente quer mudar
os rumos da própria história,
tem que confrontar o mundo,
e mais que confrontar.

Qualquer um que queira
debater com o mundo
tem que fazer de si mesmo
um espaço de debates.

Não tem outro jeito.



                                                 
Entendeu?
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Valeu!

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