sábado, 7 de junho de 2014

Reflexões (desajeitadas) Sobre a Poesia




1.
O que é Poesia? Pra que serve?
- Me pergunto e penso,
mas penso com o zelo
com que trato as poucas coisas
que tenho por sagradas.

E é com este grande zelo,
com o zelo de quem adora,
que primeiro me respondo:

Poesia é para inquietar,
é para fazer falar o que há
de mais alto na humanidade!

Mas, porque logo me correm
ao pensamento os muitos
outros modos da Poesia,
de imediato, me desdigo
e redigo:

Poesia é recipiente
que contém para que transborde,
vaso onde tudo cabe
mas que não guarda,
tem a tampa aberta.


2.
Sim! A Poesia é um vaso!
Que ideia boa para apalpar!
Um vaso que contém,
mas sem conter,
considerando que lhe
escapam sentidos,

Um vaso com a tampa aberta,
ou talvez sem tampa
onde o conteúdo
com que lhe enchem
repousa e espera.

Então, alguém chega,
este seria o leitor,
mas não o leitor que chega
e olha e depois de olhar,
vai embora.

Um leitor
que pegasse esse vaso,
que mexendo e chacolhando
derramaria, sem esvaziar,
o que ali estivesse contido.

A poesia, então, transbordaria,
talvez não de todo para fora,
para o desperdício, o ralo,
mas para dentro do leitor.


3.
E se a Poesia for uma jarra?
(minha imaginação,
que andou desocupada,
parece querer se ocupar!)

A Poesia, sendo uma jarra,
poderiam enché-la com água,
ou suco de laranja,
ou com cerveja.

O poeta poderia ser um barman,
por que não? Lencinho na cabeça
e tudo mais, jogando garrafas
para lá e cá...

O leitor seria aquele
que chegaria ao balcão
e se serviria.

Por que não?


4.
Sendo um vaso, pode ser que não
encham a Poesia com água, suco
ou qualquer bebida, ou qualquer líquido,
talvez, enchem-na com terra.
E não seja possível alcançar

o que ela contém senão cavando,
até chegar ao fundo e,
com as mãos e os braços sujos
até o cotovelo, comemorar o
achado.

Talvez, não seja preciso
tanto esforço, o de cavucar a terra,
talvez, uma flor aí floresça
e acene de longe e dê
com que se distrair
ou encantar a quem a vê,

Talvez, surja um cacto
que diga: vem aqui,
mas não tão perto!

Por que não?


5.
Digo Poesia como quem diria bolo,
pondo debaixo desta palavra
todos os bolos, a ideia bolo,
naquela palavra ponho
todas as poesias,
mas sem dizer de todas.

Se estas fossem reflexões
sobre bolos eu teria falado
que Bolo é uma recipiente
dentro do qual se colocam
todos os outros bolos.

Deu para entender?


6.
O que é Bolo?
Um produto alimentício
preparado de um modo tal
com os ingredientes tais.
Viu?

Não estou dizendo que
a Poesia é um bolo,
(o que também poderia
ser uma metáfora interessante),

Digo que Poesia,
como Bolo, é um produto
não alimentício, mas intelectual
que se prepara de um modo tal
com os ingredientes tais.

Assim, todos os bolos
se aproximam pelo preparo
e pelos ingredientes
e todas as poesias
se aproximam também
pelo preparo e
pelos ingredientes.


7.
Mas há muitos tipos de bolo
e muitos tipos de poesia!
Certamente!

E os que diferencia?
(Não os bolos da poesia,
o que talvez seja bem óbvio)
mas estes bolos daqueles bolos
e estas poesias daquelas poesias.

O jeito de fazer, de misturar,
o tempo no forno,
o material utilizado,
e por aí, vai...

Não há bolos de laranja
e de chocolate?
Não há poesia leve
e poesia nem tão leve?

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