quinta-feira, 17 de julho de 2014

Conselhos Para Ninguém























O segredo é entender que é inútil,
não importa o quão bem escreva,
não importa quantas almas
consiga tocar, é vão,
não vai servir para aquele fim
grandioso e comercial que deseja 
com tudo o que tem aí dentro.

Esse desejo, aliás, precisa morrer
porque orienta o escrito para fins
pequenos, conquistar o outro,
conquistar o mundo.

Mas ninguém parte da incerteza,
então, não parta daí, tenha
os seus delírios megalômanos,
ame o que escreve, ame
para se elevar o mais alto,
porque a queda precisa ser grande,
precisa ser suficiente.

Seja presunçoso, mais que presunçoso,
aprenda a andar por aí como o sujeito
mais genial do mundo, não tenha
medo, não escute ninguém,
vá em frente, o mundo é que está
errado.

O tempo e a aridez de todos,
o desprezo, a indiferença,
vão cortar as suas asas,
cedo ou tarde, você
vai dar de cara no chão
e vai entender o desvalor
do que faz.

E será assim, porque o valor
que procura está fora de você,
além de você, está no outro,
e isso tem que morrer.

É quando isso morre e você se deprime
de verdade o momento maior,
o momento que divide os que tentaram
daqueles que conseguiram,
os que fazem versinhos de verão
daqueles que valem a pena
ser lidos.

É quando você entende que é inútil,
que não faz diferença no mundo,
que o que escreve se torna algo
realmente seu. Se depois, dessa
iluminação, da morte dos sonhos,
ainda escrever, então, não faz
mais diferença

E cada verso valerá a pena
e cada poema será uma vitória
que a falta de aplausos e de
adulação não conseguirão diminuir.

E é também por aí, que os leitores
importarão de verdade, os leitores
de verdade, os que se inquietam,
os que pegam o que leem e
transformam em algo mais.

Cinco ou seis desses são
o suficiente.

Você tem que viver esse fim,
tem que se deparar com o vazio
da própria vida, o sem sentido,
pra ver se tem ousadia suficiente
de começar algo, de inaugurar
um modo, se tem realmente
peito pra fazer um dia amanhecer.

Se você vive isso, então, na vida real,
vai parar na poesia que escreve
e vai haver sangue e suor e angústia
e gozos indizíveis naquilo
que escreve.

De outro modo, sempre
vai se perguntar se vale a pena
e, cedo ou tarde, deixará de valer.

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