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A gente sabe que está ficando velho
quando olha pros jovens e tem certeza
de que são todos uns imbecis, petulantes,
alienados que não sabem de nada

E pensa que, se pudesse, meteria a mão
naquelas caras estúpidas.

E odeia seus cabelos esquisitos, suas roupas
esquisitas, suas bandas idiotas, suas falas,
sua impaciência, seu cinismo e descaramento,

E a gente fica se perguntando se foi
tão ridículo assim na nossa vez.
Sabemos que a resposta é sim,
então, indulgentes, rimos.

E as reclamações que nossos pais faziam
se tornam muito claras, a gente não só as
entende, como as budeja por aí, até com
as mesmas palavras e caras e modos
de dizer.

E começa a pensar antes de fazer,
e antecipar as consequências,
toma juízo. Não bebe por exemplo,
às vezes, pra evitar a ressaca,
quando bebe, já bebe sabendo
o que vem depois.

E não fazemos nada

como se não houvesse amanhã,
há sempre um amanhã,
uma semana, um fim de mês,
pela frente.

A gente sabe que está ficando velho
quando a lógica do mundo se impõe
sobre todo o resto

E a gente se acostuma a esperar
sempre menos e a sonhar pouco,
ou não sonhar.

A gente sabe que está ficando velho
quando começa a sentir saudades
de coisas de 10, 15 ou 20 anos atrás,
de amigos há muito distantes
e de lugares que não existem mais,

E começa a falar de filmes,
séries, bandas e jogos de que
ninguém nunca ouviu falar.

E adiciona a palavra antigamente
no vocabulário e expressões como
naquele tempo, faz tempo, faz bastante
tempo

E aprende a dizer, tempo bom
que não volta mais, cheio de nostalgia,

E quando reencontra velhos amigos
passa um bom tempo revivendo
o passado (que nem foi isso tudo).

A gente sabe que está ficando velho
quando acha que não tem mais idade
pra um monte de coisas: piadas, cabelo
esquisito, preguiça, se empolgar à toa,
confiar nas pessoas, se deixar levar
etc, etc, etc.

E acha um absurdo o pessoal com mesma idade
que acha que tem 15 anos, 

que age como tivesse.

E a gente acha tudo caro, calças, tênis,
cebolas, pimentões e tudo mais, e
vive reclamando dos juros abusivos,
preocupado com os preços,
insatisfeito com o salário,

E sempre está com alguma
prestação pra pagar.

E como se torna difícil sair, ir ali
jogar uma sinuca, tomar uma cerveja,
quando alguém chama, você pensa
o seu primeiro pensamento é não ir.

A gente fica entediado fácil, muito fácil,
só de imaginar, a gente fica entediado,
e parece que já vimos todos os lugares e
conhecemos todas as pessoas
e quando nos damos conta de que nem vimos,
nem conhecemos, não tamo nem aí.

E a gente perde aquela ideia louca de que é
capaz de tudo e que vai mudar o mundo
a gente sabe que está ficando velho,
quando percebe que conta mais
desistências que vitórias, mais
vergonhas que glórias.

A gente sabe que está ficando velho
quando começa a se preocupar
com o estado do mundo, política,
economia, cultura

E participa de conversas com
temas como inflação, desemprego
assistencialismo, politicagem

e por aí vai...

A gente sabe que está ficando velho
quando já não pode comer qualquer porcaria
impunemente,

E faz cooper no fim de semana
pra perder a barriga, e começa
a contar a cerveja, o café,
o refrigerante e os cabelos.

A gente sabe que está ficando velho
quando começa a pensar que bom
era no nosso tempo, e age como se fosse
mesmo o melhor tempo do mundo,
dizendo:

Agora tá uma putaria,
fosse no meu tempo,

Agora, ninguém sabe curtir,
fosse no meu tempo,

No meu tempo era assim,
não era assado,

e
por aí vai…

E a gente fica falando o tempo todo
sobre como a gente sabe que
está ficando velho.



                                     
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