Eu participo de vez em quando de alguns papos complexos, desses que acontecem em mesas de bar, na lanchonete da faculdade, do lado de fora das festas de Rock, pelos corredores do trabalho, pelas paradas de ônibus e lugares equivalentes, e por isso, acabei reparando que tem gente que não sabe o que dizer em conversas com temas elevados.
Elas ficam lá, querendo ir embora, tentando mudar de assunto, perdidas, zonzas como quem vai a primeira vez ao shopping e é atacado por aquela porrada de produtos em promoção. Não gosto de ver ninguém assim, por isso, vou repassar um segredo que aprendi faz um tempo já.
Se você é daqueles que apenas fica acompanhando os argumentos olhando para um e outro falante como quem acompanha uma partida de tênis, apenas balançando a cabeça nem pra cima e pra baixo, como quem diz sim, nem prum lado e pro outro, como quem diz não, mas de um modo confuso, circular, irregular, como quem diz talvez, pode ser ou mais ou menos, se em vez de brilhar, você passa vexame sempre que seus amigos inventam de falar de coisas sérias, acontece que eu tenho a solução.
É claro que se eu fosse ingênuo e pensasse que a intenção é ter conteúdo para mostrar, para lidar melhor com o mundo, a gente nele e consigo mesmo, não sendo menos que um interesse franco pelo conhecimento, seus começos, meios e fins, diria pra você começar a ler mais livros, ver menos TV, procurar mais sites inteligentes na internet, assim como iria sugerir o uso não apenas recreativo do cérebro.
Contudo, eu sei das coisas. Sei por exemplo que a maioria de nós não quer exatamente saber de nada, quer só se sair bem quando os próprios amigos começam com chatices. Tudo bem, assim é o mundo, ou se acostume ou se mude.
Você é um cara normal que procura um meio fácil de pelo menos não passar mais aquela vergonha de quando os amigos começam a falar sobre política, economia, filosofia, literatura, música, filmes e por aí vai, pois a você, meu amigo eu revelo o segredo, você não precisa ler nada, buscar nada, nem pensar em nada, basta que coce o queixo como quem tá escolhendo o que comer baseado numa estimativa do que tem no bolso e dizer:
- É Dialético.
Funciona pra tudo. Estão falando sobre desemprego? É dialético. Falam sobre políticas internacionais? Crises no Oriente Médio? Terrorismo? A Praça é Nossa? É dialético. Não tenha dúvida, vai na fé e diga: É dialético.
Um tempo atrás você podia dizer é relativo, bastava fazer uma cara de intelectual pra acompanhar e você se safava, mas esses, infelizmente, são outros tempos e vai ter gente uma gente chata perguntando como assim? E então, meu amigo, se você não souber como ir daí para frente, vai estar enrolado.
Diga é dialético e pronto, todo mundo ao redor só vai saber muito por alto o que significa essa palavra, daí que vão concordar com você e mudar de assunto e você vai acabar sendo conhecido pelas frases rápidas e sucintas, por ser curto e grosso. Vai ser legal.
Tem só uma coisinha mais: você corre sempre o risco de ter alguém por ali perto que saiba o que é esse negócio de Dialética, mas não tema, mantenha a calma e diga, piscando um olho, nós lemos ou não lemos Marx?. Se ainda assim, insistirem, então fale bem alto: eu não falo com petista. Pronto.
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