sábado, 9 de agosto de 2014

Um Cara de Moto





1.
Ele sentia que precisava
mudar alguma coisa
na sua vida pequena
de braçal,
sentia que faltava,
não sabia o quê.

Aquela questão o amofinou
por dias e não o deixou dormir
quieto por muitas noites.

O que seria?
- ele se indagava.

Não sei como ele concluiu,
mas concluiu que precisava
de uma moto e nada
pareceu mais nítido.

Com a moto,
ele seria mais que um cara,
seria um cara de moto,
adeus insignificância,
adeus bicicleta e a vergonha
dos pedalos,

Adeus chegar
nos cantos suado.


2.
Ele tinha um primo
que tinha uma moto,
sabia como era,

Com uma moto se tem
amigos e mulheres,
e é possível ir fácil
para todos os lugares.

E ninguém deixa você
fora dos churrascos,
dos aniversários
e das bebedeiras
sem motivo.


3.

Do que não é capaz um cara
com um desejo forte?

Pois, sabendo o que queria,
de repente, o trabalho tinha
sentido,

Não era mais só pelo feijão e arroz,
e a cerveja do fim de semana,

Trabalhou até mais tarde,
trabalhou domingo e feriado,
ia comprar uma moto zero,
7 mil reais, juntava o dinheiro
pra entrada e o resto, financiava.

Ia pagar duas motos,
sabia,
mas esta é a vida,
é uma grande putaria,
quem quer é assim
que faz.

Fez.

Agora
não era só mais um cara,
era um cara de moto.

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