domingo, 7 de setembro de 2014

Artes, Egos e Grandes e Malucas Ambições




Ontem, estava conversando com o Daniel, no Espaço Pirata. Daniel é um cara tranquilo, vivido já, especialista em churrasco, um sujeito que sabe das coisas, que sabe que às vezes, não tem jeito, não dá pra evitar a fama de mal, de ruim, de prepotente. Uma hora você tem que decidir se pretende se fazer de bonzinho ou se vai fazer o que tem que ser feito, não dá pra conciliar e conseguir um e outro.

A mesa estava cheia no começo, Patrícia, Alexandre, Vanessa, Dyon e eu, e a conversa orbitava em torno de poesia, de algumas falas que eu tinha postado no facebook, depois o Toskin chegou e começamos a fazer os amigos rirem com nosso passado em comum no Underground portovelhense, na praça do half, festas em clubes diversos, a história que não estará nos livros. Depois, o Daniel chegou e, pouco depois, ficamos só nós dois na mesa, os outros foram se ocupar de outras coisas.

Começamos a falar de assuntos diversos. Depois, passamos para um tema presente, que estava como que pedindo audiência: bandas de rock e as impropriedades de seus participantes, arte, egos e grandes e malucas esperanças. Eu falei que quando comecei com isso de escrever, pensava que ia ficar rico e rápido, através de um livro mágico, perfeito, comovente e tudo mais, então, ficava com raiva porque ninguém gostava, entendia, ninguém, por conseguinte, compraria um livro meu. Mesmo assim, por muito tempo, acreditei que os céus se abririam e o próprio Jesus desceria de lá com uma mala de barras de ouro (que vale mais do que dinheiro).

Acho que muita gente tem esse pensamento, muito disfuncional, digamos de uma vez. Se poucos são tão malucos pra acreditar que vão ficar multimilionários de uma hora pra outra, a maioria parece esquecer que estamos em Porto Velho, então, ignoram que o público não está nem aí se você toca muito ou pouco, se suas letras falam de temas relevantes ou só putaria, se rala todos os dias atrás da perfeição, só querem curtir e, quando não curtem, reclamar.

Os caras montam bandas de rock e querem ganhar dinheiro. Essas são coisas praticamente inconciliáveis, só muito raramente dá certo. Aí, a questão fica assim, ou você monta uma banda de rock pra ralar feito um condenado pra ter alguns bêbados ouvindo e dizendo que tá foda, ou, monta uma banda de sertanejo universitário pra tocar por aí, por cachês. Parece que ninguém quer admitir que é preciso gerar público pra casa de show onde vai se apresentar, isso é que dá lucro, se você tem uma banda de rock, não vai ter lucro pra dividir.

Os caras amam o que fazem, o que é bom, mas se torna um problema quando pra não aceitar a indiferença do público, eles se emputecem, ainda mais porque tão logo começam a fazer algo mais ou menos, já passam a sonhar com 100 mil dólares, mulheres, automóvel, mulheres, iate, mulheres, mansões, o que compromete a relação com a arte que praticam, porque ela não cumpre a função que lhe é imposta, ou seja, os transportar pra um mundo novo. 

E não é algo que acontece exclusivamente com músicos, com escritores também, o pessoal pega e escreve um texto, acha que é o melhor do mundo, sem motivo nenhum pra isso, a não ser a própria necessidade de fantasiar com o futuro, aí, ficam putos porque ninguém acha essa coisa toda, e aí, em vez, de aprenderam algo com isso, se tornam ressentidos e continuam praticando os mesmos erros.

O pessoal reclama que não tem onde tocar, que as casas de show não estão nem aí, fecham as portas, aí, um cara abre um pub pra dar espaço pras bandas locais, de preferência as autorais, com som próprio, e só ele e a mulher dele sabem como é pagar o aluguel e as contas de energia, e ter que passar dificuldade pra manter o lugar funcionando. Estou falando do Alexandre, meu cunhado, e da Patrícia, minha irmã, que têm passado por grandes provas pra manter o Espaço Pirata aberto. O cara vendeu a moto pra investir. E se ele passa o dia ajeitando a aparelhagem, reformando o ambiente, organizando, ralando pro pessoal ter um lugar pra ir no fim de semana, quem tá ligando, né?

E ainda tem mais, produzir é só o começo. Quem faz música tem que fazer mais que tocar, quem faz poesia ou contos ou crônicas, tem que fazer mais que escrever, tem que correr atrás, tem que se divulgar, preparar material para distribuir, tem que fazer campanha pro que produz, mas não, a maioria só quer reclamar da falta de oportunidade, em vez de aceitar que não tem mesmo e inventar algo pra mudar a situação. Alguns estão tão ocupados achando ruim as dificuldades, tão encurralados em suas próprias frustrações que mesmo sabendo que a internet existe, não têm imaginação pra pegar tirar uma foto e postar no próprio facebook.

A conversa foi bem mais longe que o que apresento aqui, conversas são assim, tomam caminhos muito diversos, às vezes, volteando o mesmo assunto, às vezes, não, indo lá pra conversas nunca dantes conversadas. Em todo caso, concordamos: não tem pra onde correr. A situação é essa. Cada um por si e pensando no seu. O que foi confirmado com um evento acontecido umas horas depois.

Chegaram esses dois marmanjos, de 30 a 40 anos na cara, provavelmente desempregados, um deles estava apagando cigarros pelo meio e guardando pra economizar. Perguntaram quanto era a entrada, o menino da portaria respondeu, 10 reais. Um dos marmanjos tirou dez reais e ficou esperando duas entradas, o menino explicou que era 10 reais CADA. O cara se indignou. Queria até brigar. Pergunta se ele estava ligando pro quanto que custava pra ele ter aquilo ali disponível com bebida barata e bandas de rock. Não, ele estava pensando em guardar os 10 reais e estava disposto a sair no braço por isso.

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