domingo, 7 de setembro de 2014

É isso, aí, Bukowski




Eu sei escrever poesia difícil, que ninguém com menos leitura que eu e menos habituado com recursos e técnicas é capaz de entender, e de vez em quando, ainda escrevo assim, pelo prazer de construir algo complexo.

Mas, no mais das vezes, me sento aqui e escrevo como falo, escrevo como aquela letra do Jota Quest, fácil, extremamente fácil, pra você e eu e todo mundo cantar junto, porque acredito que se a arte tem alguma função é essa: falar algo. E mesmo que tirem o título de arte dos meus trabalhos, se eles falam, então, tudo bem, que um liquidificador pode ser chamado de qualquer outra coisa, ninguém vai ligar se dá pra fazer vitaminas com ele.

Essa minha postura vem de muito tempo atrás, baseada no alcançar o outro, em lhe falar, antes apenas se manifestando na minha mania de sair por aí com um monte de papéis manuscritos, obrigando as pessoas a lerem, mas foi evoluindo, tomando forma, pouco a pouco, até se consolidar.

Depois de ver como a arte é tratada por aqui, decidi que não era pra mim. O que se escreve chega a ser irrelevante e um poeta ou escritor é avaliado por critérios que muitas vezes não têm nada a ver com o material que o cara produz, mas com o modo como ele se comporta, com quem anda, e por aí vai. Ao ponto de muitas pessoas se dizerem fãzaças desse ou daquele autor sem nem saber o que ele escreve.

De outro modo, admiram esse ou aquele autor exatamente por não o entenderem, por adivinharem a complexidade do que ele escreve, sem nunca, entanto, chegar a lhe decifrar os ditos. Também não quero isso pra mim.

Depois que li do Bukowski que um artista é alguém que fala de coisas difíceis de uma forma simples, achei a fórmula que estava procurando e passei a levar a sério, me desfiz do prestígio de poeta, do prestígio de escrever poesia e comecei a não esquentar com muita coisa, senão falar.

Então, está acontecendo, com a ajuda de uns amigos, que me dão espaço, que compartilham o que escrevo, que de um modo ou de outro me dão algum apoio, começo a falar, começo a ser lido, a causar reflexões, misturadas a risos, isso basta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário