terça-feira, 21 de outubro de 2014

Gente Como a Gente






A gente tem essa mania
de divinizar os que são capazes
de grandes provas de bondade,
integridade, e outras virtudes,
Madre Tereza, por exemplo,

Assim como de demonizar
aqueles capazes de crueldades
difíceis até de conceber, como
o maníaco do parque,
Para muito acima, ou muito abaixo
do que estamos acostumados a ver,
temos o hábito de retirar da larga e longa
faixa dos comuns, tantos os muito bons,
como os muito maus,
acho que para nos proteger.
No primeiro caso, do altruísmo cujo
peso, apenas imaginado, já nos
vergaria as costas, e no segundo,
de se reconhecer capaz de maldades
muito maiores que as que praticamos
todos os dias, tranquilamente,

Ao colocarmos as pessoas
muito bondosas num altar,
reconhecemos que não somos
capazes de imitar os seus feitos,
daí, que nem nos impomos isso,
lidamos bem com os limites
da nossa benevolência,

Se não doamos tudo para a caridade
e vamos peregrinar pelo mundo
praticando o bem, isso não é coisa
que nos inquiete, sabemos o que somos,
e não somos mais,

Ao colocarmos os terrivelmente maus
abaixo de tudo, podemos esquecer
do que somos capazes e até
dizer que não, nunca, jamais,
poderíamos fazer o que eles
fizeram.
Estamos sempre pegando
essas pessoas, muito boas,
ou muito más e as retirando
da categoria “pessoas”,
incluindo a elas entre anjos
ou demônios,
Mas é bom  pra manutenção
da nossa saúde mental,
porque, de outro modo,
o cotidiano do que somos,
nossa confortável pequenez,
seria insuportável,
Seja pela presença de uma
consciência superexigente
a nos enlouquecer com seus valores
e necessidades morais inalcançáveis,
seja pelo medo de estar como que
sempre já a cometer um ato hediondo.



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