domingo, 12 de outubro de 2014

Um Tipo de Permanência






1.
Com o tempo, se aprimora tanto
quanto a percepção do outro,
por conhecê-lo dentro e fora,
a sensação da sua distância,

Assim que se experimenta
a ausência de outro modo,
mais profundo e mais complexo,
palpável quase

E o não estar ali, ao alcance dos braços,
da pessoa a quem se busca
chega a ser uma presença
e quanto mais se alonga o tempo
compartilhado,
mais ela se avoluma,
toma forma e consistência,

E se torna como que um substituto
do outro quando ele não está,
ficando no vão aberto
do seu lugar cotidiano.


2.
Não falo daquela falta
que sofrem os namorados
recentes que querem do outro
tudo de uma golada só,

Que é uma ânsia, uma pressa,
uma compulsão por chegar perto,
por estar perto, por não se desagarrar,
quase uma dor que precisa
ser mitigada, imediatamente,

Falo de quando o tempo passa
e são tantas e tão profundas
as impressões do outro
que só com elas é possível
montar uma pessoa inteira,

Que a sua falta é como um
adivinhá-lo ali, abrindo a porta,
depois da parede, na esquina
sendo dobrada.


3.
A percepção da ausência
daquela pessoa em específico,
e de mais nenhuma,
se faz tão densa e tão completa
que é como uma parte sua
de algum modo desgrudada,

Que é como se a qualquer momento
fosse atravessar pro reino do tangível
e, se vestindo de matéria
se fizesse um ente, de repente,
autônomo,

Mas é tão nítida e vívida
quanto delicada e frágil
essa ausência,
um oi, uma ligação,
um contato e pronto,

Devolve o que
tomou emprestado
a quem empresta

E
desaparece.





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