sábado, 4 de abril de 2015

Conjunto Mamoré



Conjunto Mamoré,
Zona Sul de Porto Velho,
a casa do meu pai fica
numa ruazinha escondida
e esburacada, coberta por um asfalto
desbotado de tão velho,

É uma casa típica de conjunto,
com um alpendre e uma cozinha
acrescidos ao projeto original,

Estou lá, me balançando na
rede da varanda, meu irmão
me mostra jogos no tablet dele
e como dá pra jogar com o
controle do PS3,

Meu pai olha pra câmera compacta
que lhe dei, foi pra ele parar de postar
fotos embaçadas no facebook,
está novinha, mas sem uso
aqui em casa.

Aproveitei pra mostrar pra ele
algumas técnicas e recursos.

O Toninho está na varanda também,
ele teve um tempo headbanger, outro
tempo emo, um tempo boy e agora
não sei em que tempo está,

Está falando de mulheres como sempre
e dos mais de 400 clipes que tem salvo
em casa, diz que, se eu quiser, ele
me passa alguns, não quero nenhum,
tenho todos - na internet.

A Vanessa está pela casa,
estava brincando com a Rebeca,
minha irmã mais nova, e agora
acho que na cozinha, conversando
com a Vanda.

Vanda é a mulher do meu pai,
não a chamo de madrasta,
ela é mais como uma amiga
e acho que madrasta quer
dizer outra coisa.

Ficamos nisso um tempo, aí,
o Caveirinha chegou se pendurando
no portão, falando que tinha matado
um rato, fez jeito de sniper segurando
o fuzil e até o barulhinho do tiro,
PSHIII! - tiro com silenciador.

Estava verdadeiramente empolgado
com a ideia de ter acertado e matado
um rato, com certeza, um dos milhares
que vivem no córrego imundo ali
em frente.

Nisso, aparece um cara de uns 35 anos,
um pouco gordo, com a cara inchada,
segurando a espingarda de chumbinho
no ombro.

O Caveirinha entrou
e o cara subiu a rua.

Depois, veio a notícia que o cara
tinha acertado a nina, na cabeça,
alguém disse que o dono dela
ia ficar puto, outro disse que o cara
não lembrava que a espingarda estava
carregada.

Nina era a cachorra de alguém,
pelo visto, a cachorra muito
querida de alguém, porque
foi um rebuliço.

Todo mundo foi pra rua pra dar conta
do caso, até os moleques que estavam
fumando um se mobilizaram um pouco,
igualmente, curiosos.

É engraçado, eles ficam na frente
de um quintal que mais parece um
terreno baldio, exalando quilos de fumaça
como uma chaminé, rindo como
imbecis e acham que ninguém sabe
o que estão fazendo,

Mas todos sabem e a verdade, é
que sabem que não sendo seus filhos,
o problema também não é seu,
já dá muito trabalho cuidar
da própria vida.

Tem um pula pula bem no meio da rua,
carro não passa, mas não faz muita
diferença, é difícil mesmo passar um
carro por ali.

Meu pai diz que sempre sai
cedo, 6, 6 e 30 da manhã,
e sempre está tudo um deserto,
mas naquele domingo, acordaram
cedo, as crianças.

Acho que nem dormiram.

Alguém lembra de se preocupar
com o pior e lança a pergunta:
E se ele tivesse acertado um
desses meninos?

Os meninos e meninas não estão
nem aí, estão suados, cansados,
sujos, e pulando, só querem saber
de pular.




                                                 
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