sábado, 16 de maio de 2015

Simplona




Cadê a Poesia?

Está por aí, em toda parte,
o sorrisão do tamanho de tudo,
de camiseta, saia e rasteirinha, os
cabelos soltos, os braços abertos,

Perfumada só do talco das crianças
com quem brincou mais cedo
e de sabonete.

Ou será que você acha
que ela é como uma daquelas
musas gregas enroladas
em grossos e alvos panos?

Não é.

Às vezes, ela se disfarça
de uma dessas florezinhas rudes,
ponto de cor e luz na bagunça
de mato e lixo de um terreno
baldio,

Um bando de borboletas
zanzando tontas pelo espaço,
à beira de um córrego
fedorento,

Às vezes, ela é o cheiro forte
de café dando boas vindas
a quem chega ao trabalho,

O miojo quando é tarde
e a fome bate,

Às vezes, é um cara no ônibus,
uma senhora passando a mão
na cabeça do neto, esse neto
correndo como um doido
só porque deu vontade de
correr,

Às vezes, é uma lembrança
que aparece do nada e faz rir
ou sentir saudades,

Noutras vezes, ela está
num vídeo em que duas
crianças sapecas cobertas
de tinta tentam se explicar
ao pai,

Na cara delas, no riso
contido, do pai...

Ela tem muitas formas,
e sempre está por aí,
por toda parte.

Você provavelmente a viu hoje,
em casa, no trabalho, na rua
dentro da cabeça ou num
lugar mais improvável,

Ela acenou, sorriu, você acenou
e sorriu de volta, ou fez que não
era com você, mas reconhecer,
não a reconheceu,

Tudo bem, quase
ninguém a reconhece.

Em estado bruto, ela é muito
diferente do que acham
que ela é.




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