terça-feira, 30 de junho de 2015

O Bom Presunçoso






Uns dias atrás, estava conversando com o Marcos, falando pra ele sobre o lado bom da presunção. Fosse outra pessoa e com certeza, antes de eu começar a falar já estaria duvidando da validade dos meus argumentos e afirmando que de jeito nenhum a presunção poderia ser uma coisa boa, mas este meu amigo, já está acostumado a me ver contrariando o senso comum com o inusitado da minha forma de pensar e perceber o mundo.

Presunção, altivez, convencimento e boçalidade podem se referir à mesma tendência de um indivíduo a superestimar a si mesmo, as suas competências e o próprio valor. Assim dizer que alguém é presunçoso, altivo, convencido, boçal, equivale a dizer que ele se acha. E se achar, segundo a opinião geral, não é algo muito legal, nem para quem vê, nem para quem é.

Vamos imaginar alguém que pensa que pode fazer muito mais do que realmente pode, esse alguém vai assumir atividades para as quais se acha competente, mas não sendo, é bem possível que quebre a cara bonito. Ser presunçoso nesse caso seria muito frustrante.

Agora vamos imaginar que esse mesmo alguém tem uma inclinação a se atribuir um valor muito maior que de fato tem. Imaginemos também que as pessoas ao seu redor não acham esse indivíduo grande coisa, será ou não será frustrante pra ele lidar com essa desvalorização?

Ok. Essa é a parte em que você cruza os braços e me diz: Até agora, não vi nada de bom ou proveitoso na presunção. Eu concordo e acrescento que não é à toa que a presunção é tão mal falada por aí, sem o cuidado necessário, uma gotinha a mais na sua dosagem, e a gente acaba se dando muito mal.

Eu sei que essa ainda não é a hora de chamar a presunção de virtude. Vamos voltar um pouco no tempo e encontrar um outro Danilo. Vamos vê-lo sentado na mesa da sala, envergado sobre um caderno velho escrevendo sonetos. Aquele Danilo, presunçoso como ele só, sempre que escrevia um soneto acreditava que estava escrevendo um grande poema.

Acreditava também, supervalorizando a própria produção, que o mundo precisava contemplar a genialidade do escrito, por isso, arrancava a folha do caderno e saía pelo mundo exibindo sua “obra imortal” para conhecidos e nem tão conhecidos assim. Ninguém gostava.

Danilo ficava puto com isso e como estava convicto da qualidade do próprio trabalho explicava para si mesmo que eles é que eram burros, insensíveis que não podiam se extasiar com um material tão sublime como o que tinha escrito.

Um dia, tomado por uma franqueza nunca de antes experimentada, Danilo leu e releu o próprio trabalho e pela primeira vez em muito tempo, se deu conta de que não chegava nem perto de Camões, Bilac, Pessoa e de outros autores que admirava e com os quais se comparava, se equiparava - melhor dizendo.

É difícil dizer como fiquei triste naquele dia. Talvez você não acredite, mas eu tinha realmente a esperança de uma hora pra outra me tornar um escritor renomado e sair da miséria para a riqueza. Naquele dia, entendi que isso não aconteceria, senti que não aconteceria de jeito nenhum. Doeu.

Eu sei, você está cada vez mais convencido de que a presunção não pode ser algo bom, não é? Mas fique um pouco mais, porque é exatamente agora que vou explicar meu ponto de vista.

Não lembro de outro dia mais triste na minha vida. Ao perceber que eu não era tão grande como pensava que era, que chegava a ser ridículo eu querer me comparar com poetas de verdade, decidi até parar de escrever. Não tinha mais um propósito. Eu escrevia confiado na minha própria grandeza e ao descobrir que não tinha nenhuma grandeza, não vi porque continuar a escrever.

Passa um tempo. E volto a escrever, mas me limito a escrever sonetos pra minha namorada. Ela gostava. Eu escrevia e declamava em paradas de ônibus, na frente da sua casa e noutros lugares. Pra qualquer outra coisa além disso, eu não escrevia nada.

Então (e é agora que a presunção se mostra virtuosa), a minha antiga presunção, há tanto tempo calada, chega de mansinho e começa a dizer que sim, era verdade, eu não era nada especial, MAS talvez, eu pudesse me tornar. Minha teimosia, outra qualidade questionável que tenho, concordou e argumentou que não custava nada tentar.

O problema da presunção é que ela nos ilude, nos convence que temos o que não temos e por isso, iludidos com nossa própria superioridade, não conseguimos nem conceber a necessidade de correr atrás. Ninguém nunca vai correr atrás do que acha que já tem.

Agora, quando a presunção nos ajuda a ir em frente, quando nos diz que não é impossível alcançar, quando nos faz acreditar que não vai ser fácil, mas que temos a capacidade de conseguir, então, ela se torna uma virtude. E pode acreditar em mim, nesse caso é muito melhor ser presunçoso que inseguro, porque há dessas inseguranças que nos convencem que nem temos nem nunca vamos ter o que queremos.

Pense no tempo em que não existiam aviões, só o anseio de voar e se pergunte a sério se hoje em dia existiriam aviões caso uma cambada de presunçosos não acreditasse que era possível inventar algo que voasse, algo que o mais da gente considerava impossível e que hoje é cotidiano como sandálias havaianas.

Deixando de acreditar que era o fodão, passei a acreditar que se me esforçasse de verdade, poderia aprender, poderia me superar, chegar aonde queria - ser um grande escritor. Voltei a escrever e nunca mais parei. Hoje, em dia, não é que me ache menos presunçoso, acontece que sou presunçoso de outro jeito, de um outro tipo de presunção, entende? Sou um bom presunçoso.

Sempre que me sento aqui no computador para escrever um poema, me empolgo como antigamente e sinto de verdade que estou escrevendo algo grande. Às vezes, viro a noite, às vezes, fico uma semana com ideias martelando na cabeça, simplesmente, maravilhado. A diferença é que não deixo mais a presunção me enganar, tomo dela só as gotas diárias necessárias para seguir em frente.




                                                 
Presumo que gostou
e que, por isso, vai compartilhar.
Então, obrigado!

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