quarta-feira, 24 de junho de 2015

Um Tipo de Engenhocaria


Então, você viu a foto e já perguntou o que isso tem a ver com Poesia, não foi? Provavelmente, não, né? Tudo bem... Para os fins didáticos a que se destinam este texto, vamos fazer de conta que sim: Sim, foi o que você se perguntou. Eu digo que muito.

A foto é da luminária que desenvolvi. A Frankenstein 3000 Plus de Luxe Extra Limited Edition, ou frank, é produto de anos de pesquisa, tentativas e erros. Sua primeira versão não era mais que um guarda-chuva com a área interna coberta de papel alumínio, uma lâmpada dentro e um cabo de vassouras e bastante fita adesiva segurando tudo isso junto.

Precisando de iluminação para fazer uns vídeos e não tendo dinheiro pra comprar, resolvi produzir minha própria luminária. O ponto não é nem os vídeos, nem a falta de dinheiro, nem a luminária em si, mas o fazer a luminária, o prazer de criar!

Desde pequeno eu gosto de montar e desmontar coisas. Pegava os carrinhos que meus pais me davam e, simplesmente, os abria e dava um jeito de despregar suas peças. Uma vez fiz um guindaste de lata, noutra, fiz um barquinho com controle e tudo.

A vez mais emblemática que me lembro, foi quando peguei embalagens de detergente, água sanitária, shampoo e por aí vai, cortei, botei uns elasteque e fiz minha própria armadura de cavaleiro do zodíaco. Eu era o Seiya, claro. Não ficou lindo, mas virou moda na rua 4.

Mais tarde, comecei a mexer em ventiladores. Mais por necessidade, porque aqui em Porto Velho não existe vida sem ventilador. Afora isso, de vez em quando, ainda faço gambiarras: um suporte pro celular, um tripé para um microfone, dentre outras coisas.

Talvez você duvide, mas a mesma empolgação com que me dedico a criar engenhocas, me domina quando vou escrever um poema. Na verdade, escrever um poema é engenhocaria com palavras. Engenhocaria é a Engenharia não oficial, a arte da gambiarra.

Se você reparar, vai perceber que minha frank é um apanhado de objetos reunidos. O pé era de um ventilador que parou de funcionar, o suporte, cano pvc 25mm, onde o holofote foi preso por duas braçadeiras. Tudo o que eu fiz foi juntar tudo. Na poesia é do mesmo jeito. Pego uma ideia aqui, outra ali e vou juntando.

Às vezes, eu escrevo o começo e o fim de um poema, depois, ralo pra fazer o meio, às vezes, só aparece o meio, então, a ralação é outra. Na revisão, monto e desmonto e remonto o poema algumas vezes. E quando dá certo, é uma alegria.

Talvez você discorde de mim e diga que não é bem assim, a poesia vem da alma, não pode ser planejada dessa forma, entendida, trabalhada e por aí vai. E eu vou ter que concordar com sua discordância. Mas só em parte.

A poesia é realmente assim: para alguns, não pra todos. Cada um que escreve tem seu modo de chegar lá. Bukowski, por exemplo, só escrevia mamado, já o Pessoa praticamente psicografou alguns de seus poemas. Às vezes, é assim comigo também, o poema aparece e é só chutar pro gol, mas, no geral, tenho que passar por todo um divertido caminho que vai da concepção à realização do poema.

Pra terminar, eu me cito: a gente com o que tem tem que se virar.




                                                
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Um comentário:

  1. Muito boa comparação! Haha, e isso aqui é um proema, viu? A equilibrada intertextualidade entre a física experimental e a composição poética. E ficou muito bom seu experimento luminário. Estou gostando do que estou vendo por aqui.

    Ps: Esse texto serviria tranquilo para uma oficina de composição poética.

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