sábado, 31 de outubro de 2015

Leitmotiv




Tem dia que dá pra saber
de onde vem essa ideia
de paraíso: o idílio fantástico
de um contentamento pleno,
tranquilo e sem fim.

Anteontem,
deu uma chuvarada de noite,
daquelas pesadas, com raios
e trovões magníficos,
como flashs da câmera
de um deus.

Sorriam! - ele gritava.

Corri pra baixo dágua
metendo os pés com vontade
na lama grossa, de novo
um menino.

A Vanessa hesitou um pouco,
mas me acompanhou,
a gente pulou, dançou,
gritou, embriagados
por uma euforia pueril.

Era como se
não houvesse amanhã,
nem ontem, nem nada:

Só o momento
em suspensão,
só o agora e estar ali
brincando.

Então, quando a gente
se agarrou com força e pressa,
famintos um do outro,
eu pensei:

Bem que a vida podia
ser feita só disso!

Mas não foi só um pensamento,
foi uma sensação, um desejo,
um querer...

Ela disse: eu te amo,
eu disse de volta,
também te amo.

Acho que é a partir
de momentos assim que
se desenham os paraísos,

É dos arrebatamentos
instantâneos e raros
em que a gente não quer
senão o que tem:

A inalcançável saciedade
finalmente alcançada!

A plenitude
de não ter mais
o que desejar:

Quando a gente não quer
nada mais que aquilo,
porque só se quer mais
do que não é o bastante
e aquilo, naquele instante,
basta,

É tudo
e basta.

Acho que felicidade é ter
algo e não querer nem mais
nem por mais tempo,

Porque a gente só ansia
pelo adiamento do fim
diante da própria ideia
de fim.

Mas quando a gente está feliz,
no momento em que está,
não existe fim pra adiar,
porque é como não houvesse
fim.

Quando a gente está feliz,
por um momento, o momento
é tudo o que existe.

Naquele instante,
deu pra entender o que move
os devotados perseguidores
de paraísos em suas buscas
e sonhos,

Deu pra entender,
não como quem
entende, porque pensa,
como quem entende
porque sente igual;

Como quem finalmente
descobre do que é que
eles estão falando:

Eu daria a vida
por uma vida assim.



                                             
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