sábado, 14 de novembro de 2015

A Geladeira Imaginária


A geladeira velha tinha pifado,
e como a gente não tinha dinheiro,
ficou sem uma por mais de um ano.

Foi nesse tempo que a gente
desaprendeu a comprar pra armazenar,
era uma chateação, toda vez que
queria algo, tinha que ir no mercado,
o Rocha e Costa.

Eu ia praticamente todos os dias
comprar 1 tomate, 1 batata, 1 cenoura,
meio quilo de carne moída, bife,
fígado, às vezes, coxinhas de frango,
só não ia nos dias que não tinha
dinheiro e a gente comia ovo.

Mais de um ano fazendo
a geladeira de armário,
bebendo água fria de um
filtro, tomando 2 litros de refri
todo de uma vez, porque não
tinha como guardar.

É engraçado como o hábito ficou,
a despeito da geladeira nova,
eu ainda vivo sem geladeira,
comprando pra comer na hora.

Só me dei conta disso, porque
minha irmã comprou duas bolachas,
uma pra comer e outra pra guardar.

Eu pensei, como assim guardar?
A gente não guarda pra mais tarde,
a gente compra e come.

Nesse caso,
a gente = eu.

As coisas mudaram, a gente
tem geladeira agora, eu é que
mantive o hábito e tenho vivido
com a geladeira pifada dentro
da minha cabeça como se ela
estivesse fora e fosse ainda
coisa da minha realidade.

Caramba!

Se isso não é um forte indício
de que as condições em que vivemos
geram modos de pensar e de agir
que permanecem lá, mesmo depois
que o entorno muda, então,
não sei o que seria.

A gente não precisa viver
pelo que já foi vivido,
mas, no geral, acontece.

Agora estou aqui pensando
no quanto de mim ainda
não foi atualizado.




                                                    
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