sábado, 21 de novembro de 2015

Cadernos Antigos



01.
Sempre que escrevo estou empolgado,
e isso já é um hábito antigo, então,
suponho que muito texto que escrevi,
já há algum tempo, teve pelo menos
um pouco dessa empolgação,

O que quer dizer que escrevi
cada um desses textos antigos
sentindo como se fosse o melhor
de todos que já escrevi,

Aí, vou ler e quase sempre me pergunto
onde é que tava com a cabeça.

Isso é fácil de explicar,
eu sou outro, tenho outros anseios,
amadureci um pouco, aprendi umas coisas
e esqueci outras,

Então, quando olho um poema
antigo, olho pra outro tempo,
pra produção de outro eu.

Difícil retomar quem eu era na época
e embora entenda que estava aprendendo,
ainda me escapam todas as circunstâncias
de então, me deixando no vácuo.


02.
Gosto de me ver como um poeta em construção,
em construção e constante reforma, como
uma obra do Governo - sem pressa pra acabar.

Estou sempre pensando onde dá pra melhorar,
me indagando sobre o que significa isso de escrever,
por que, pra que, quem, como, quando e outras questões,
o que, de vez em quando, me dá umas crises e,
depois, uma revisão de paradigmas.

É, eu sou esse tipo de poeta,
escrevo na base dos paradigmas,
mas quis a Vida e um sem fim
de processos sociais, naturais
e humanos, que eu fosse essa
inquietação, constantemente,
inventando e despedaçando
paradigmas.

Não é à toa que quanto mais antigo o poema,
mais evidente é a diferença, embora em todos tenha algo,
um jeito de andar, falar ou ser, em que me reconheça,
eles apresentam mais elementos de desconhecimento,
talvez por isso, goste tão pouco dos mais velhos,
- é o eu de outros tempos ali, um eu já superado.

Mas aí, penso que se não tivesse escrito
cada um deles, talvez, não chegasse
a esse ponto quando tudo parece mais
claro

E fácil.

É por isso que quando vou olhar
os meus cadernos antigos,
tento lembrar que escrevi aquilo
sob outras circunstâncias, outras paixões,
sendo outro, não completamente outro,
mas outro em muita coisa.

Eram tentativas, apontamentos,
rascunhos e ensaios.

Os voos inaugurais de um grande albatroz
se preparando para conquistar os amplos céus
da liberdade.

(Isso me ocorreu agora,
está meio nada a ver, mas
achei bonito, vai ficar)


03.
Quando vou pensar no passado, faço igual,
olho com paciência e sempre tentando lembrar
que eu pensava diferente, via diferente num contexto
diferente, o que só podia desembocar em tentativas
diferentes.

Se o que fiz ou o que não fiz
não corresponde aos meus critérios atuais,
não estou nem aí, tanto faz, o que fiz, tá feito
e pro que não fiz, não tem mais jeito.

No geral, penso que na época pareceu
uma boa ideia, deve ter parecido, pelo menos,
e afinal, a maioria... - não a maioria não,
boa parte... - também não...

Penso que algumas das muitas bobeiras
que fiz acabaram por fazer quem sou hoje,
acabaram contribuindo de algum jeito.

(Claro que algumas outras me atrapalharam bastante,
mas a ideia desse poema é ser positivo
- good vibes, entende?.)

Pra terminar, acho que é besteira,
isso de olhar os erros de aprendiz
pelos olhos de quem já aprendeu
a lição.

É isso.



                                                                                                     
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