terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Por que sou poeta - ou por que não sou um dançarino



O que mais gosto na Poesia é a possibilidade de fazê-la algo cotidiano, o que seria muito fácil de fazer com a dança se a vida fosse um musical ou um videoclipe, mas não sendo, então, não é. Embora de vez em quando eu pegue a Vanessa pra dançar nas situações mais variadas, no supermercado, por exemplo, penso que fazer isso no trabalho, na faculdade fora de um contexto descontraído, ia favorecer a ideia de que não bato bem do juízo.

Um desses dias, estava pensando em como seria a minha rotina se, em vez de poeta, eu fosse um dançarino. Eu sei, esse não é um pensamento que ocorre todos os dias a todas as pessoas do mundo, então, por que pensar numa coisa dessas? Respondo: pelo lazer da imaginação. Já ouviu falar de flanar? Como o corpo, a mente também precisa de uns exercícios pelo menos três vezes por semana. Além do mais, aposto (mas não uma quantia considerável) que a alguém já ocorreu e se não ocorreu, pode ser que aberto o precedente, passe a ocorrer.

Para guiar a imaginação e não deixá-la correr solta, tomei por base a forma como lido cotidianamente com versos e frases de efeito, fiquei pensando se em lugar de falar, dançasse. Não sei se você sabe, mas existem muitas formas de implementar Poesia ao dia a dia. No começo é difícil reconhecer os ensejos, mas em pouco tempo, se pega o jeito.

Não estou falando de parar na rua, no trabalho, numa loja ou onde quer que seja e começar a declamar versos com a voz empostada e gestos grandiloquentes, estou falando do princípio poético, o de falar bonito. E não só falar bonito. Falar o que valha a pena ser falado e ouvido, impregnando o discurso com o mais possível de beleza e profundidade. E estou falando dos discursos mais gratuitos e triviais.

Não seria pelo menos curioso, alguém que se expressasse por meio da dança, não em palcos, praças e eventos específicos, mas cotidianamente? Para momentos de reflexão, movimentos demorados e dramáticos, para momentos de alegria, passos rápidos, saltos e rodopios. Seria um transtorno! Talvez um belo transtorno, a depender do dançarino, da dança e claro, da plateia inusitada, mas ainda um transtorno. Pra mim então, um transtorno e meio. Tenho mais de 1,80, peso 90 quilos e essas são as dimensões do desengonço.

Como sou do tipo engraçadinho, podia ser comediante também, faria piadas, o que seria mais cabível que a dança. Do mesmo modo que faço com frases e versos, podia encher o cotidiano de brincadeiras, gracejos e comentários jocosos (o que já faço e que nem sempre dá certo), mas aí, deixaria faltar o componente trágico, sensível e comovente da Vida. Com a Poesia, não! Pelo menos do jeito que a penso, ela pode falar de qualquer tema e de muitos jeitos.

Podia ser um completo intelectual também, falando coisas simples de um jeito difícil, como diz Bukowski, mas aí, perderia outra coisa que gosto muito - a possibilidade do entendimento. Gosto bastante de fazer sentido e o intelectualismo compromete um pouco esse gosto. Tiro isso pelos dias que ando realmente inspirado, cerebral, falando de Nietzsche, Freud, Platão e por aí vai, às vezes, nem eu me entendo. Com a Poesia, eu posso ser simples como um bêbado de bar e tão enigmático quanto.

Não sei o de vocês, mas o meu cotidiano é repleto de conversações e de todos os temas o que me permite uma constante exploração da fala e alguns momentos únicos de eloquência e envolvimento, o que seria bem difícil de conseguir sendo um dançarino, mas sendo um poeta, toda hora é hora de Poesia.


                                                    
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