sábado, 16 de janeiro de 2016
Nada de mais
Adolescência é o tempo de ser doido,
é o que diz o grande livro não escrito
das convenções sociais.
A gente pode ser estúpido,
idiota, precipitado, cabeça dura,
platônico, inconstante, preguiçoso,
respondão, revolucionário
e por aí vai.
Quem não aproveita sempre se arrepende
do que não fez e fica imaginando
que devia ter feito e ficado arrependido
de outro jeito, do jeito de quem fez.
É o tempo da aventura,
e de se aventurar, tempo do exagero
emocional, tudo é um drama, a vida
uma novela mexicana,
Tudo é importante demais,
sério demais e, paradoxalmente,
é o tempo do nem aí, do nem ligo…
Eu varava a cidade atrás de festa de rock,
confiava em todo mundo, sonhava,
vivia revoltado com o mundo, sabia tudo,
não ouvia ninguém, toda semana
tinha uma paixão eterna diferente.
Mas com o tempo, que passou,
e tudo aquilo que o recheou,
acabei aprendendo a pegar leve,
Não bebo como antigamente,
não como como antigamente,
não me afobo com tudo
como antigamente.
Faz tempo que não vou num rock,
porque não é fácil e sendo sempre difícil,
eu me pergunto se vai valer a pena:
nunca vale a pena, melhor é ir
sossegar, ler um livro, ver um filme,
dormir.
Taí o que eu não fazia quando era
mais novo, perguntar se valia a pena,
sempre valia.
Na juventude tudo vale a pena,
porque o juízo ainda é pouco e
não há vontade média nem pequena
A não ser pra fazer o que preste,
a gente quer ir seja pra onde for
pra fazer o que seja.
Mas então, chega a hora que a gente
já foi pra um monte de lugar, já viu
um monte de coisa e já sabe que
o que parecia fantástico, na verdade,
não tem nada de mais.
Não é aquele nada de mais
do fingimento juvenil que
simula desinteresse pra fazer
uma pose de superior, precoce,
avançado, manjador das putaria.
Trata-se de um desinteresse
autêntico que não tem nada a ver
com pose, aliás, não está nem aí
pra pose nenhuma. Pose
não paga conta de ninguém!
Acho que é por aí que a gente
começa a virar adulto, quando
passa dos anseios de ver como é
pro desencanto de já ter visto.
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