quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

É a empresa!


Moto no conserto. Batida. Um irresponsável atravessou a preferencial. Não é nada inédito. A gente vê isso acontecer o tempo todo, mas quando acontece com a gente é diferente. É como se nunca tivesse acontecido com ninguém. Não aconteceu comigo, aconteceu com a minha mulher. Felizmente, ela é sempre prudente e atenta, estava devagar e só se arranhou. Ficou muito assustada, mas conseguiu lidar bem com a situação.

O irresponsável ainda bateu boca, quis dar uma de dono da razão, mas assumiu o prejuízo, só das peças quebradas, porque não estava com dinheiro pras arranhadas... Depois podemos até ver uma forma aí, de comprar essas… Depois… Depois = nunca! Ainda pagou o conserto como se fizesse um favor. Favor quem faz é a gente que vai passar o mês de fevereiro com a chateação de não ter moto e não cobramos nada por isso.

O mês inteiro sem moto, empenou o garfo e aqui não tem, não tem várias peças, então, é preciso pedir de São Paulo, com demora média de 15 dias úteis. Sabe o que são 15 dias úteis no mês do carnaval? O mês inteiro. Mas não tem como diminuir um pouco esse prazo? Desculpe, senhor, mas não sou eu, é a empresa. É a empresa.

Da outra vez foi a mesma coisa, mas pior, porque mandaram o tanque errado. Quem mandou o tanque errado? A empresa. Da outra vez, a moto estava parada. Um cara de biz atravessou a preferencial, acertou um táxi, o taxista perdeu o controle bateu num carro estacionado, este bateu na moto, imprensando a bichinha contra outro carro. Quase 3000 reais.

O taxista cooperou, no começo. Depois, se tornou arrogante, se chateou. A seguradora fez igual, no começo, ia pagar, depois, disseram que não ia. Senhor, não posso fazer nada, é a empresa. A gente recorreu a um advogado. Advogada, na verdade. Mãe de um amigo, também amiga. Processou taxista e seguradora. A seguradora quis fazer um acordo: concordamos que era a melhor opção, aceitamos, o prejuízo foi pago. Mas a gente ficou sem moto, esperando as peças chegar.

Depois que a gente tem moto, a nossa relação com o espaço urbano muda, os lugares ficam mais perto e acessíveis, os caminhos mais curtos e a disposição do veículo, deixa tudo mais tranquilo. Primeiro, a gente se maravilha, se congratula pela compra, e então, se acostuma logo com a facilidade. Com a mordomia, como diz minha mãe. Aí, ter que pegar ônibus vira um problema.

Eu não vou dizer que detesto pegar ônibus pela manhã para ir trabalhar, até gosto na verdade. Acordo mais cedo pra pegar o mais vazio, me sento e leio. Mas vejo muita gente louca de raiva. A empresa de ônibus mudou, piorou um pouco, já ameaçaram greve, não fizeram. O pessoal reclama porque o motorista passa sem parar nas paradas não sinalizadas, não posso fazer nada, ele diz, é a empresa! O pessoal reclama porque o motorista está parando, porque o ônibus está entupido de gente. É a empresa. Ele corre demais, freia brusco demais, faz curvas muito rápidas. Empresa...

Quem é essa empresa, né? Empresa é um conceito muito abstrato pra gente poder reclamar. Chego a pensar que a gente acredita em empresas, bancos, indústrias e por aí vai, como os gregos acreditavam em suas divindades, como entidades poderosas, inalcançáveis a que não podemos desafiar se não elas nos lascam. Os gregos, pelo menos, tinham as histórias bonitas pra contar. A gente só tem desgostos e reclamações pra fazer. E olhe lá!



                                                             
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