sábado, 23 de abril de 2016

Tava 7x1 pra Vida!


01.
Tem muitos bebuns espalhados
por Porto Velho, zumbizando
pelas praças e ruas com
as caras idiotas afogueadas
e a horripilância letárgica
dos mortos vivos.

Aqui pelo bairro tem um monte
deles, que andam geralmente
em bando pra facilitar a vaquinha
do goró.

De vez em quando, tem um
jogado na calçada, inconsciente,
de vez em quando, tem uma
briga, em câmera lenta, tem
um que dança, um que tropeça.

Tem filho gritando com o pai,
pai gritando com filho, mulher
arrastando marido na base
da sandalhada, tem polícia
mandando circular.

Perto daqui, o esperto dono
de um mercadinho conseguiu
amestrar uns deles e atualmente
emprega a mão de obra
embriagada na varredura
de calçadas e outras atividades
simples.

Paga com litro de pinga
e o livre uso do alpendre
do mercadinho.

Tô rindo,
mas acho triste.


02.
Não sei se tenho muita sorte
pra ver essas cenas ou se
o problema são os lugares
por onde ando serem propícios
a elas...

Não sei, sei que vejo
e penso que podia
ser um deles.

E quando digo que
podia ser um deles
não quero dizer que
queria ser um deles,

Quero dizer que podia
ter acabado assim.

Hoje é mais difícil apontar
pra possibilidade havendo
outras mais ressaltadas
e preementes,

Falo de quando era novo
e tava doido.

Um pouco mais de desespero,
um pouco mais de aperto e fome,
um pinguinho mais de insanidade,
autopiedade, irracionalismo

Pronto.


03.
De vez em quando,
vejo um bebum jogado
na calçada, bodado,
cutuco a Vanessa e digo,
rindo:

Foi por pouco…

Mas nem foi por tão
pouco assim, dificilmente,
seria um bebum de rua.

Na verdade, lembro até
de ter pensado em morar
na rua, mas ficava pensando
no Supernintendo que tinha;

Como ia fazer pra continuar
jogando?

Em certa medida,
o Supernintendo e meu vício
por Street Fight e MK Ultimate
me salvou de fazer algumas
idiotices.

De outras, não, mas salvações
são assim, né? Não dão conta
de tudo...


04.
De uns tempos pra cá,
tenho visto esse cara
todo sujo de calça moleton,
camisa rasgada, barba por
fazer

Ele tem uma áurea forte ao redor,
áurea, sim, porque não é mais
nem fedor nem cheiro, ele vive
aqui pelo bairro, por onde
peregrina com seu blazer
de um milhão de anos.

Vejo esse cara andando
de lá pra cá falando suas ideias
nada a ver num fluxo verbal
difícil de acompanhar,

Aí, eu penso:
taí, ainda há tempo!

Também tá muito difícil
um andarilho pé de cana pensador,
embora não seja impossível,
é mais impossível agora
do que era antes.

Não é impossível qualquer um
se tornar um bebum de rua,
na verdade, fico até pensando
na força que muitos fazem
pra não se entregar.


05.
Conheço algumas pessoas
que estão fazendo muita força
agora mesmo pra conseguirem
o que querem.

Estão estudando todos os dias
pra concursos, estão fazendo
doutorado, cavando oportunidades
com as próprias mãos.

Embora, ao mesmo tempo
que estejam procurando o melhor
estejam evitando o pior, o que estas
pessoas têm à frente e o que faz
seus olhos brilharem é a melhoria,

Pra muitos outros, a situação
é um pouco diferente, eles
se dedicam todos os dias
pra evitar o pior.

E a única coisa que faz
seus olhos brilharem é o medo
de que uma merda muito fedorenta
aconteça.

Pra alguns, é mais ou menos
como começar um jogo
perdendo.


06.
Imagina comigo um jogo de futebol,
semifinal de Copa do Mundo, tá 7 a 1,
nessa hora, vai haver substituições
dos dois lados:

Enquanto uns vão entrar
na vantagem, só pra manter
e depois comemorar,

Outros, vão entrar perdendo,
sem poder nem sonhar
com o empate.

Na vida, acontece o seguinte,
enquanto um pessoal vai ter que
começar fazendo o que puder
pra não acabar como bebuns
de rua,

Outro pessoal, vai tá
correndo atrás dos sonhos,
entediados com a existência e
sentindo falta do algo a mais.

Eu era mais do primeiro grupo
e como achava que a partida
tava perdida mesmo, não queria
nem jogar...




                                                                  
Gostou?
Então, passa a bola!
Valeu!

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