sábado, 1 de outubro de 2016

Cada Um Por Si E O Mundo Contra Todos



01.
É bom conversar com os mais novos,
é bom porque, por mais desiludidos,
a esperança ainda tá lá, escondida,
mas tá lá, dá pra ver que tá.

No fundo, eles ainda querem
e acreditam que é possível
mudar o mundo.

Acho que é porque o mundo ainda
não os mastigou e cuspiu de volta,
ainda não arrancou seus ideais
e suas ingenuidades,

Pode ver, os jovens mais surrados
ainda têm algum brilho no olho,
uma chama que o sopro do mundo
ainda não pôde apagar.

Acho que a desesperança
vem com a idade, como a fraqueza
nos ossos e nos nervos, como
a lerdeza dos intestinos e as
dores nas costas e nos joelhos,

Sintoma.


02
O mundo é uma montanha
cada vez mais íngreme
que a gente tem que escalar
e que pra escalar, a gente tem
que ir largando coisas,

A gente vai subindo e largando,
subindo e largando, aí chega
o momento em que o mundo
é só um paredão

E a gente tenta só se segurar,
mantendo o peso apenas
do que cabe nos bolsos.

Acho que é por isso que
depois de umas décadas vividas,
a vida assume um sentido prático,

E tudo que não se encaixa
no esquema ou é perda de tempo
ou algo pra qual já não se tem idade.

A gente já sabe o peso das coisas
e a dor dos membros depois de
cada subida, então, evita,
tudo o que é a mais.

A gente aprende a falar
de coisas importantes
como se não importasse
nada, porque a gente
não se importa mais,

Não faz diferença
se importar ou não se importar,
não dá pra carregar mesmo,
então, é esse tanto faz.


03.
Quando converso com gente
com mais de trinta anos,
sempre parece que não
converso com alguém,

Parece que converso
com o que sobrou de
alguém, com um pedaço
que foi poupado,
sei lá.

Já viu o que precisa
cortar pra um círculo
se tornar um quadrado?

Já viu o que precisa
cortar pra uma pessoa
virar um funcionário?

É o mesmo processo:
reduzir pra caber.

E o que cabe
é sempre menos.


04.
Prefiro falar com os mais novos,
ouvir seus planos equivocados
e sua forma romântica de ver
e acreditar no mundo,

Eles ainda são círculos
e o mundo onde vivem
ainda não é um paredão
gigante.

E eles não sabem como
as coisas são,

Sei que vão saber, mais dia,
menos dia, é o ciclo da vida,
inevitável

Como todos os que cresceram,
eles também vão crescer e
vão saber como as coisas
são,

E mesmo que nunca saibam,
como maioria nunca sabe,
eles vão fingir que sim,
que sabem,

Porque é muito mais
conveniente.

Mesmo assim, gosto de vê-los
vivendo os seus momentos,
me faz lembrar dos meus

Gosto de ouvir suas coragens
e imaginar o que vai sobrar
deles depois que a máquina
do mundo lhes tacar os dentes
e mastigar.

Fico torcendo pra que sobrevivam
e aí me sinto um pouco mais
humano.




                                                                    
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Valeu!

Um comentário:

  1. Como eu,gosto de conversar com minhas sobrinhas;tantos planos,sonhos,ideais.Os quais eu não pude realizar.

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