quinta-feira, 29 de maio de 2014

Leminski - Um Tweeteiro?




Por esses dias, inaugurou uma grande livraria no shopping de Porto Velho. Não fui na inauguração, embora quisesse, e quase não fui depois do cinema, naquela quinta feira, quando estava prestes a fechar. Fui, embora não quisesse. Minha namorada me puxou pelo braço e então, dali a pouco, eu estava falando alto, passeando os olhos meio a esmo e gesticulando muito, já bastante empolgado com um livro laranja florescente. Mesmo antes de ver todas as outras centenas de títulos expostos, assim que vi aquele livro, não tive dúvidas. Era o “Toda Poesia” do Leminski. Comprei.

Eu gosto de Leminski, do que já li pela internet, das boas sacadas que ele tem, das brincadeiras que consegue fazer através da manipulação da palavra. Mas, quanto mais avanço pelas páginas do livro, onde alguns conjuntos de poucos e pequenos versos vão se amontoando, mais sinto falta de algo mais. Ainda não terminei o livro e talvez, ao terminá-lo, mude de ideia, por enquanto, contudo, estou com a impressão de que a poesia de Leminski não tem muito que oferecer, senão o prazer imediato e superficial de quem percebe um gracejo decodificando o humor sofisticado do gracejador, aquele riso impulsivo e ligeiro de quem, entendendo a piada, ri e já em seguida esquece. Acostumado a outras leituras, provavelmente por isso, espera um pouco mais, um detimento maior.

Não lembro quando, mas não deve fazer muito tempo, postei pela internet uma imagem da série que chamo tweets poéticos com os dizeres: entre a poesia e a piada, o mesmo princípio, o da boa sacada. Realmente, observar semelhanças e diferenças, enfim, relações dificilmente abarcadas por olhos comuns é uma das virtudes de um bom comediante. Veja um desses muitos humoristas que fazem stand up e vai perceber o que digo. Pois, coloco o poeta numa posição muito próxima ao humorista, pelo menos no que diz respeito à capacidade de observação, sua agudeza. A diferença, nem sempre óbvia, está no fato de o primeiro ter um compromisso maior com o riso, enquanto o fazedor de versos, busca apelar para outras emoções.

Leminski tem esse talento, o de sacar as coisas e mais, o de expressá-las com grande habilidade, você o lê e então tem aquela sensação “como não pensei nisso?”, mas queria mais que me impressionar com isso, queria ouvi-lo falar pelas poesias, captar ideias, ideais, opiniões, vontades e por aí vai. Procurava um poeta inteiro e só temos uma parte bem pequena de suas gracinhas. Acredito na importância do modo como a poesia é feita. Podemos dizer, na verdade, que Poesia é mais arranjo que tudo. Sou da opinião, em contrapartida, de que não importa quão genial é o arranjo, se expressa algo superficial, é igualmente superficial.

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