segunda-feira, 23 de junho de 2014

Um Segredo




Ela estava com um roxo grande no braço
e outras marcas que não eram de amor
pelo corpo magro e dentro dos olhos,
que não sendo tristes, eram
resignados.

Ela disse que ele era um homem bom,
trabalhador, responsável, e quando não
estava bêbado nem encostava nos meninos
a não ser para abraçá-los ou pra ver
se tinham tomado banho direito.
O problema era a bebida.

E já fazia tempo que ele não bebia,
mas com essa Copa aí, ele andava
bebendo muito, saía com a camisa
do Brasil dizendo que ia no mercado,
ou na casa do irmão.

Aí, voltava com a cara vermelha
e furioso por nada.

Ela disse que pensou em chamar
a polícia, porque não foi criada
pra apanhar de homem nenhum,
mas e se chamasse? Os meninos
não podiam ficar com o pai preso.

Tudo isso ela me disse, meio sem jeito,
com a naturalidade absurda de quem
já se conformou com o sofrimento
e concluindo que não tem outro jeito,
aprende a suportar.

E depois, mudando a voz,
ela pediu pra eu não contar
pra mais ninguém, ela ia dar um jeito
e ele já tinha prometido que ia mudar.

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