quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Isso é Poesia?





Esse meu amigo leu, releu e leu ainda mais uma ou algumas vezes mais um poema meu, Ilarilari ê, ô ô ô, e não entrava de jeito nenhum na cabeça dele que aquilo ali, aquele monte de frases que poderiam ser ditas numa conversa trivial se tratava de arte.

Inquieto com a questão, me abordou na aula e falou, apontando para duas folhas impressas com versos meus: Vem cá, Danilo, onde tá a poesia aqui? E então, aproveitou para falar que não entendia muito, mas que na cabeça dele poesia era algo muito mais sério, que tinha rima e, basicamente, era um falar bonito, não aquela conversa descontraída. Ele ainda acrescentou que não que não tenha gostado, gostei, mas não parece poesia.

Não é a primeira e tenho certeza de que não será a última vez que ouvirei isso. Desde que comecei com os versos livres e a coloquialidade me perguntam isso é poesia?, e acontecia (como vem acontecendo)  tão frequentemente que o nome do sarau que organizei durante um tempo tinha exatamente esse título: Isso é poesia?

Quando escrevia sonetos e outras formas metrificadas de poesia, era mais fácil convencer a todos de que se tratava de poesia, mas então, tinha que lidar com outro problema: ninguém entendia, o que entrava em conflito direto com o anseio que tenho muito maior do que o de fazer arte, o de ser entendido, de me comunicar com as pessoas.

Claro que no começo eu me frustava, queria falar com as pessoas, transmitir-lhes ideias, ideais, pensamentos, sentimentos e por aí vai, e tudo parecia tão claro para mim que eu pensava: não é possível que ninguém entenda. Depois, cheguei a conclusão de que era algo normal e que as pessoas não entendiam porque não estavam habituadas àquela forma de poesia, eu sim, elas não.

Mudei minha diretriz mestre e em vez do prazer de reduzir uma ideia a uma forma preestruturada e sair por aí para perturbar conhecidos e desconhecidos com um forma pouco praticada de literatura, cedi à vontade de ser entendido, então, comecei a trabalhar versos livres, e fui levando minha linguagem cada vez mais para esse lado. Mas como não se pode ter tudo, agora lidava com um problema novo: as pessoas estavam me entendendo, só não levavam a sério que aquilo era poesia.

Algumas pessoas acreditam mesmo que se elas são capazes de entender facilmente, se reconhecem o modo de falar e tudo mais, não é poesia, para outros, se não cabe nos critérios que aprenderam, não é poesia, e não estou falando apenas de leigos, acadêmicos também  e, talvez, especialmente estes tenham as mais rígidas ideias do que é ou não é poesia.

Com o tempo, deixei pra lá. Até porque a questão se tornou secundária, já que agora, eu falava e o público entendia. Quando apresento alguns dos meus poemas, as pessoas riem, se divertem, se identificam, arranjam uma questão, reconhecem outra, se inquietam, então acho que está dando certo.

No fim das contas, vale o que uma amiga do trabalho me disse um dia desses, depois de teimar por muito tempo que era melhor eu começar a escrever outras coisas, porque nem sensibilidade eu tenho pra ser poeta, característica que eu mesmo reconheço: não importa o nome que dão, importa que você consegue falar às pessoas.

Acredito nisso.

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