sábado, 25 de abril de 2015

Eu Só Vejo Gente






Eu só vejo gente, gente
nas academias e nos lanchinhos,
dentro dos camaros, em ternos ou
roupas de 500 reais a peça,

E fora deles, nos sinais,
limpando para-brisas, estendendo
as mãos feridas, sujas, duras,
empretecidas como de carvão,

E por detrás dos quilos de maquiagem,
da moralidade mole e fácil, dos óculos de marca,
e dos sorrisos cínicos, afáveis, debochados,
arrogantes, presunçosos, bondosos,
confortantes ou consoladores,

E dentro das camisas de camelô
ou daquelas lojas exclusivas,
e das calças ou muito caras
ou muito baratas,

Tomando Coca-Cola ou Dydyo,
Whisky ou 61, comendo sushi
ou pão com ovo,

Em toda parte, festas ricas ou pobres,
casamentos, funerais, batismos,
formaturas,

Eu não vejo estatísticas, nem cifras,
nem doenças, nem religiões,
nem pensamentos,

Pelos bancos, lojas, supermercados,
pelas ruas e escolas e faculdades
e igrejas e bares,

Há sempre gente, gente
transbordando dramas e alegrias,
e é bonito e é feio e às vezes, confuso,
porque, às vezes, é tudo de uma vez.

Eu só vejo gente, gente
por todo lugar onde vou.

Gente
e seus medos e amores,
e suas glórias e vergonhas,

Eu só vejo gente em toda parte
e a humanidade que transborda
de seus olhos ambíguos
e perdidos.

Por detrás do rosto mais ríspido
tanto quanto do mais simpático,
eu sempre vejo uma pessoa
a lhe dar vida.

No assassino e no juiz
a condená-lo, eu vejo gente,

Eis o meu horror de todos os dias,
e minha esperança
cotidiana.





                                                                                           
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Valeu


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