sábado, 11 de junho de 2016
Saudade de Mim
Não tenho saudade de nada
mais do que tenho saudade
de mim
Falei isso pra alguém
e ouvi: Ai, que egoísta!
Que egocêntrico!
Não acho que seja
egoísmo, mas pode ser
egoísmo.
Egocentrismo
também.
O negócio é que tava
vendo uns vídeos de uns
caras andando de bike
E me deu uma saudade
de andar de bike, eu andava
de bike, varava a noite andando,
subia e descia calçadas,
fazia umas manobras
e tal.
Por causa da saudade,
pensei, pô, posso comprar
uma bike e voltar a andar
de bike hoje mesmo.
Posso, sim, pensei, mas, logo
em seguida, um pensamento
engatilhado, disparou:
Não vai ser
a mesma coisa…
Não seria mesmo.
Já nem tem half na praça do half
e pouca gente do meu tempo
continua andando de bike.
Sem dizer que até os que ainda
tão teimando, acho que uns dois,
não são os mesmos, a cidade
não é a mesma, tá tudo diferente.
Gente diferente, mundo diferente,
ruas diferentes, as bikes tão
diferentes, os bikes tão
diferentes!
Fui assim,
de pensamento em pensamento,
de diferença em diferença,
até chegar em mim:
não sou mais o mesmo.
Se desse pra reconstituir
todos os elementos daquela
antiga realidade, tintim por tintim,
não ia adiantar de nada,
porque mudei.
Tenho outros interesses
e preocupações, outro modo
de olhar pro mundo, de perceber
o mundo.
Se eu voltasse no tempo,
não ia adiantar de nada, porque
já conheço a estrada e já não sou
um menino começando a caminhada.
Se eu voltasse no tempo,
seria um homem refazendo a subida,
entendiado por ter que repetir o passo,
o feito, o fato, a Vida.
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