sábado, 16 de julho de 2016

Melancia de Pescoço


Quase 2 da manhã,
o Marcos me manda
um vídeo de uma moto,

De um cara acelerando
uma motona a fundendos 400km
PORORA!!!

Não é pouco, é muito mais rápido
do que o pescoço humano
consegue acompanhar,

Zummm,
já foi…

Fiquei pensando como seria
avançar pelo asfalto montado
num foguete a 400km/h

Cacetada, em cima de um míssil
com guidon e roda,

Teria coragem?

Acho que não,
tenho quase certeza que não,
agora que tenho juízo...

Mas pô, é uma Kawasaki,
como seria ter uma
KAWASAKI?

É nessa hora que percebo
que não sonho mais
como sonhava antigamente,
porque tenho certeza que uma
motona dessa era só trabalho.

Imagina, eu indo no
mercadinho do Raimundo
comprar bolacha recheada e Dydyo
de K A W A S A K I,

Ligava a moto aqui e lá
já tavam me esperando.

E a rua cheia de buraco?
A cidade cheia de buraco.

Meu irmão tem uma 300 e
andar pela buraqueira em cima dela
já incomoda, imagina numa moto
com 10 000 cilindradas,

E a gasolina que esse monstro
deve beber?

Um tonel pra ir ali na esquina,
outro pra voltar, pronto: 500 barão,
como diz meu pai.

É queimas dinheiro.

E a família todo tempo com medo?
Só esperando a notícia da morte na TV,
“Poeta perde controle de Kawasaki e”…

E…
Todo mundo sabe: depois
do grande boom flamejante,
pedaços do que já foi José Danilo Rangel
sendo raspados da pista.

Cada despedida, um drama:
Mãe, vou ali na esquina de moto,
vai meu filho, mas saiba que mamãe
te ama…

Amor, vou ali na esquina de moto,
pode ir, mas saiba que te amo!

E a Vanessa sem querer andar
na moto? Porque, com certeza,
ela não ia querer andar nem
na garupa,

Amor, vai ali pagar as contas.
De moto? Vou não! Vou nada!
Eu ia dizer o quê?

E o pessoal da Receita
querendo saber onde consegui
a moto, e a vizinha comentando
ou tá vendendo droga
ou tá vendendo o corpo,

Já fui bêbado de praça, não nego,
e na época diziam coisas hediondas
a meu respeito,

No meio das artes também
tem bastante papo rolando,
principalmente na boca
de quem não me conhece,

Fazer o quê, né?

Mas imagina eu chegando no Aponiã
com o motorzão e o pessoal
pensando que eu virei político!

Imagina aí, a vergonha!

Ah, não...

Rapaz,
Kawasaki deve significar
imensa frivolidade chamativa
e trabalhosa pra carai,

Ou algo como grande melancia
pra pendurar no pescoço.

Tô bem de 125, dá pra ir
e voltar de boua.




                                                                 
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