sábado, 28 de março de 2015
É, Isso É Um Desabafo
É um pouco triste pensar
que a mulher da xerox
do centro, que nem me conhece
e sem saber do que se tratava,
Fez mais por mim
do que todas as instituições
culturais que me “apoiaram”.
Juntas.
Mas é assim mesmo,
meu camarada,
quando você quer fazer
as coisas como quer fazer
vão chamar você de cabeça dura
e dizer que você é
alguém difícil de lidar.
Eles vão subestimar você,
eles é que sabem das coisas.
Eles vão tratar você como não valesse nada,
como se estivessem fazendo um favor,
dando uma esmola prum mendigo,
E se você exige pelo menos um pouco
de respeito, eles dizem que você
é arrogante e que só quer ser.
E eles nem vão ler o que você
escreveu, o que disse, só sabem
que você foi numa praça com uns
amigos falar uns poemas pra vinte
pessoas.
A real é que eles não estão nem aí
pros seus poemas, pensamentos,
anseios, pras suas ideias,
pretensões,
Querem mais é
que você se foda,
não se encaixa?
- Foda-se.
Existe um conjunto de regras
não escritas ali, rígidas como grades,
como o concreto das paredes,
todos respeitam, o pacto é esse,
Eles obedecem e
querem que também obedeça.
Você desobedece?
Já sabe, né?
Agora, se de algum jeito você
conseguiu chamar atenção,
surgem convites do nada,
pra reuniões, eventos
e tudo mais,
Você está dentro.
E você pensa que eles
querem mesmo apoiar
o seu trabalho,
mas é só para fazê-lo
garoto propaganda dos
“projetos culturais” deles
e mostrar como apoiam
as artes.
Mas não dá certo,
você entende que não
tem nada a ver com o
que escreve, mas se
você é ou não é capaz
de puxar o saco e participar
de panelas,
Você entende que
eles não podem dar
o que você procura,
embora mintam e finjam
que podem.
Você entende como é
e dá o fora,
Você tem amigos, tem sua mulher,
sua mãe e irmãos,
tem gente que sonha
com você, que ouve você,
que leem você,
Coloque umas boas ideias
no meio, vontade de fazer,
e pronto,
Se você tem um pessoal
capaz de ir para o meio de uma
praça com uma caixa de som
passar vergonha com você,
Você tem tudo o que precisa.
E se vira.
Você fica um pouco
abatido, desiludido, mas então,
lembra de uma grande verdade:
o mundo e a gente nele não
têm nenhuma obrigação de
ser como você quer que seja.
E segue em frente.
Então, eles usam
as suas ideias na cara dura
e repetem seus pensamentos
como fossem deles e
emulam sua paixão
como se realmente fossem eles
OS APAIXONADOS.
Você ri e sente um contentamento
grande por saber que está certo:
eles não sabem de nada.
E falam mal de você pelas
costas e não gostam de você,
mas nem a decência de admitir eles têm,
encontram você na rua e estendem
as mãos hipócritas e sorriem,
Eu sou santo?
Eu não sou santo.
Eu sorrio de volta,
com a cara lambida.
Eu também digo não
e furo e esqueço
um ou dois compromissos.
Mas é isso e só.
Eu quero mais pro que escrevo
e se o que escrevo não vale isso,
quando for um velho chato,
pelo menos, vou poder contar,
pros meus netos e pros vizinhos
e pros desconhecidos nas filas do banco
Como é que ousei
fazer do meu jeito
e deixar o resto pra lá
E vai haver um orgulho
jamais visto sobre a Terra
estampado no meu rosto.
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